sexta-feira, 4 de julho de 2025

"Amor de Salvação", de Camilo Castelo Branco

Este clássico escrito por um dos grandes nomes da Literatura Portuguesa surpreendeu-me bastante, pois tem uma história interessante, uma narrativa tão moderna e envolvente quanto a de Machado de Assis e uma lição de vida que vale até mesmo para os dias de hoje.

Na obra, Castelo Branco nos conta a trajetória de Afonso, que, apaixonado pela belíssima Teodora e acostumado à ostentação e ao luxo, quase acaba arruinado.

Uma leitura super indicada!

domingo, 29 de junho de 2025

"O morcego e a luz: 80 anos de Batman no cinema", de Ticiano Osório

Nesta obra, o crítico de cinema gaúcho Ticiano Osório constrói um belo levantamento de todas as aparições cinematográficas do personagem Batman.

Certamente, como um apaixonado pelo super-herói desde a infância, Ticiano não consegue esconder a sua predileção por uma ou outra produção -- fato que deixa alguns leitores inquietos. Contudo, isso não desmerece esse livro tão interessante, tão gostoso de ler e tão memorável, até por conta de sua proposta.

Adorei!

quarta-feira, 18 de junho de 2025

"O Silêncio dos Inocentes", de Thomas Harris

O livro "O Silêncio dos Inocentes" consegue a façanha de ser ainda melhor do que o filme. E faz isso por meio da narrativa envolvente de Thomas Harris e da história fascinante que o autor traz à tona: corpos de moças estão sendo encontrados em diferentes locais dos EUA, todos parcialmente sem pele. Sem saber a quem recorrer, o FBI pede que a jovem agente Clarice Starling sonde informações com o psiquiatra/psicopata Hannibal Lecter, uma letal caixinha de surpresas.

A obra literária esmiúça detalhes fundamentais a respeito dos personagens, os quais, pelas limitações da linguagem cinematográfica, foram omitidos no filme, incluindo características que ajudam o público a entender melhor Clarice Starling e Jame Gumb. Apesar disso, é fato que o filme é bem fiel ao livro, realmente adequando-o ao formato. Também, é incontestável que Anthony Hopkins proporciona aos espectadores um Hannibal que transcende as páginas literárias e imortaliza-se na cultura popular.

sexta-feira, 6 de junho de 2025

"Caça-fantasmas brasileiros", de Rosa Maria Jaques e João Tocchetto

"Caça-fantasmas brasileiros" é um livro publicado em 2016. A obra narra mais de 30 experiências da autora, Rosa Jaques, uma reconhecida paranormal, e seu marido, João Tocchetto. Desde 1996, a dupla tem resolvido casos sobrenaturais por todo o Brasil, ajudando espíritos e fantasmas a encontrar a paz.

A publicação conta diversas histórias de assombrações em locais como hospitais, cadeias, cemitérios e museus. Cada capítulo apresenta um caso diferente, desde a ida ao local onde ficava a Casa de Detenção de São Paulo até a visita à residência do famoso estilista Clodovil.

O trabalho do casal é impressionante, pois Rosa Jaques não é daquelas videntes sensacionalistas. Ela age de maneira ponderada e sóbria, trazendo mais seriedade e respeito à sua prática, cujo objetivo é auxiliar vivos e mortos a entenderem e a aceitarem a vida e a morte.

O canal "Caça Fantasmas Brasil" no YouTube, que apresenta esses casos e outros tantos, é superinteressante! E o livro em questão serve como um bom roteiro para aqueles que desejam conhecer mais sobre as atividades dessa equipe fora de série.


domingo, 1 de junho de 2025

"A Vida da Morte: Jornada ao Submundo", de Bárbara Seibel

- Título: “A Vida da Morte – Jornada ao Submundo”

- Autora: B. I. Seibel

- Editora: Lunas (SP)

- Ano de lançamento: 2023

- Nº. de páginas: 194


No meio de uma noite sombria, o adolescente Daniel está em sua humilde moradia, quando estranhas criaturas surgem repentinamente, sequestram-no e o levam para o Submundo, um local proibido para os seres humanos. Blenda, o seu anjo da guarda, culpa-se por não tê-lo protegido como deveria e, por isso, recebe do Princípio a missão de trazê-lo de volta para o Intermediário. Então, após buscar o auxílio de outros fascinantes personagens para tentar concluir com sucesso essa tarefa, inicia a sua jornada ao Submundo, cujas aventuras são narradas neste primeiro volume da pretensa trilogia “A Vida da Morte”. Cabe ao(à) leitor(a) descobrir as surpresas que Blenda e os seus companheiros encontrarão em seu caminho.

Em “Jornada ao Submundo”, Seibel, por meio de uma narrativa competente e instigante, nos faz mergulhar no universo mágico por ela criado. A história não é contada seguindo aquele clássico padrão já batido, composto por “situação inicial”, “conflito”, “clímax” e “desfecho”. Até há uma “situação inicial”, embora possamos perceber que os personagens já carregam inúmeras vivências anteriores (as quais poderiam, inclusive, gerar outros ambiciosos livros), e o “conflito”, ocasionado pela captura do menino. Porém, creio que o “clímax” e o “desfecho” estão distantes de ocorrer e, com certeza, nos serão apresentados no decorrer da série. Esse é um elemento importante e diferente daquilo que é observável em títulos de fantasia abarcando vários subtítulos, como a saga “Harry Potter”, por exemplo. Porque “A Vida da Morte” envolve, provavelmente, uma só sequência de fatos, segmentada em três obras distintas, sem propor um apelo particular para cada exemplar da coleção.

Com seu estilo voltado ao estímulo do suspense, entregando cápsulas de roteiro aos poucos e alternando trechos que tratam brevemente a respeito de cada núcleo de personagens, recurso que pode ser identificado nas novelas, Bárbara desacomoda o(a) leitor(a) desatento(a). Isso não quer dizer que a autora desenvolve uma narrativa difícil, mas sim, fora do padrão, o que torna a experiência de leitura ainda mais atraente. Além disso, a utilização de um narrador onisciente nos oferece até mesmo as características mais íntimas dos seres maravilhosos participantes dessa fictícia missão, permitindo que as pessoas conheçam de verdade os protagonistas, os antagonistas e os coadjuvantes que saltam das páginas de “A Vida da Morte” para a vida de cada um de nós.

Portanto, a “Jornada ao Submundo”, formulado como um romance de aventura infantojuvenil, é capaz de agradar, como já vem acontecendo, leitores e leitoras das mais diversas faixas etárias, tendo em vista que é constituído por um enredo interessante, personagens inventivos, narrativa bem planejada e reflexões pertinentes, que podem ser alcançadas por uma leitura bem executada. Ou seja, com este volume em questão, Bárbara Seibel comprova que não é só mais uma jovem escritora, e sim, que veio para realmente somar no cenário cultural brasileiro.

sábado, 24 de maio de 2025

"Reunião de poesia", de Adélia Prado

"Reunião de poesia", de Adélia Prado, é uma coletânea que reúne 150 poemas dos livros "Bagagem" (1976), "O coração disparado" (1978), "Terra de Santa Cruz" (1981), "O pelicano" (1987), "A faca no peito" (1988), "Oráculos de maio" (1999) e "A duração do dia" (2010).

Adélia Prado escreve sobre temas do dia a dia com muita sensibilidade. Ela usa uma linguagem acessível para enaltecer a beleza nas coisas comuns. Sua poesia soa despretensiosa e displicente, mas é exatamente isso que a autora deseja: mostrar que é na simplicidade, na vida de qualquer pessoa, que mora a poesia — basta saber captá-la. Suas obras falam sobre a vida, espiritualidade e a busca por significado, sempre com um toque de melancolia e celebração da existência.

quarta-feira, 21 de maio de 2025

"Educação para todas as vidas: um novo olhar para a vida, um rumo novo para a educação", de Mauro José Santin

Em "Educação para todas as vidas", o plural Mauro José Santin intercala trechos em que narra a sua própria trajetória com reflexões a respeito de como a nossa doente e automatizada sociedade vive e, consequentemente, de como a humanidade enxerga a educação de modo a inserir esses novos seres humanos nesse mesmo mecanismo doentio e sem sentido.

Nesse contexto, o autor sugere a todos formas menos alienantes e automáticas de deixarem as suas marcas nesta existência, assim como propõe maneiras de organizar a educação, para que os indivíduos tenham mais consciência de si mesmos, do outro, de seu papel no mundo e de como realmente podem ser protagonistas ignorando as diversas "podas" socialmente estabelecidas.

De minha parte, confesso que já era um grande fã da escrita de Mauro Santin, do jeito que ele saboreia as palavras -- (re)descobrindo significados, atentando aos elementos que as compõem e encontrando a poesia sob qualquer circunstância. E, somadas a essa maneira brilhante de redigir, há ideias e ideais interessantes de verdade e diagnósticos infelizmente certeiros.

Enfim, "Educação para todas as vidas" prova ser uma obra que deleita e ensina, cujas páginas certamente ajudam a tornar seus leitores melhores.

sexta-feira, 16 de maio de 2025

"A riqueza do mundo", de Lya Luft

"A riqueza do mundo", de Lya Luft, explora temas fundamentais, como o amor, a perda, a busca pela felicidade e a complexidade das relações humanas. A escrita da autora é envolvente e intimista, permitindo ao leitor mergulhar em um universo introspectivo, que convida a pensar.

Comparando com "Múltipla escolha", obra sobre a qual já comentei há algumas postagens, é possível perceber uma evolução no estilo narrativo e na abordagem dos assuntos. Enquanto aquele já mostrava a habilidade de Luft em propor reflexões relevantes e profundas, este parece aprimorar ainda mais essa capacidade, oferecendo uma visão mais madura e elaborada das questões tratadas.

Ambos os títulos destacam-se pela forma como a escritora utiliza sua experiência de vida e seu olhar peculiar para trazer à tona aspectos existenciais, trazendo uma perspectiva abrangente e lúcida sobre o mundo ao nosso redor. "A riqueza do mundo" pode ser vista, portanto, como uma continuação natural e um aprofundamento das reflexões presentes em "Múltipla escolha".

quinta-feira, 8 de maio de 2025

"Vidas Secas", de Graciliano Ramos

Ao ler "Vidas Secas", o leitor entende por que este livro trata-se de um clássico inquestionável.

Na obra, as vidas retratadas por Graciliano são secas de intelecto, de humanidade, de dignidade. Ou seja, a terra é seca, mas as pessoas são mais.

A narrativa é completamente envolvente. O leitor vive o sofrimento junto dos personagens, que vivem como nômades em busca da esperança do verde e da limpidez da água.

E, por falar em personagens, a cachorra Baleia é uma das figuras mais emblemáticas da Literatura, pois, por meio dela, observamos a família e as suas próprias abstrações. Além disso, até a metade da leitura, temos a impressão de que a cadela é o ser mais racional do grupo. E é só depois que ela se vai que os membros do agrupamento tornam-se menos animalescos.

Para finalizar, admito que o capítulo 9, intitulado "Baleia", é uma das seções mais sublimes e comoventes que já tive a experiência de ler.

sábado, 3 de maio de 2025

"Desvelando belas mentiras", de Franciele Fátima Marques e Idanir Ecco

- Título: "Desvelando belas mentiras: alienação e ideologia nos livros didáticos"

- Autores: Franciele Fátima Marques e Idanir Ecco

- Editora: EdiFAPES (RS)

- Ano de lançamento: 2017

- Nº. de páginas: 132


O livro “Desvelando belas mentiras”, de Franciele Marques e Idanir Ecco, de modo a abordar de forma bastante completa a temática a que se propõe, traz aos leitores as noções de alienação encontradas nas obras de Hegel e Marx, bem como o conceito de ideologia elaborado por Marx e Engels, trazendo, posteriormente, esses enfoques dentro da educação. Ainda, trata de como os livros didáticos surgiram no decorrer da história da educação, e como esse processo se deu no Brasil. Em seguida, para ilustrar esses fundamentos teóricos apontados pelos autores, elenca exemplos de como a alienação e a ideologia podem ser identificadas nos livros didáticos, em aspectos como: raça, cor e gênero; família e suas possíveis estruturas; concepções de trabalho; o índio visto por um prisma preconceituoso; desigualdade social e consumo; esporte e lazer; também, acesso às novas tecnologias. Por fim, discorre a respeito das propostas de educação que seus elaboradores creem ser a mais adequada ao contexto nacional.

Esse título surpreendeu-me bastante, pois mostra que os materiais didáticos engessados vão muito além da escolha deprimente de textos, que, muitas vezes, não instigam nem os docentes à leitura, e da precariedade das explicações, que tornam o processo de ensino-aprendizagem quase impraticável. “Desvelando belas mentiras” aponta que essas publicações, completamente dissociadas da realidade vivida pela maior parte dos estudantes da rede pública de ensino, não têm nada de inocentes. Estão, sim, a serviço de uma visão de mundo elitista e segregadora, cujos meios convergem para o preconceito, o consumismo, o conformismo e ideias distorcidas de trabalho, família, alimentação e práticas esportivas, só para citar alguns exemplos.

Aqui, Franciele e Idanir afirmam que, enquanto os(as) professores(as) não tiverem a autonomia de escolher os seus materiais didáticos, atentando à realidade discente, bem como buscando promover o protagonismo e o engajamento por parte dos estudantes, a educação não funcionará de maneira eficiente, uma vez que, nesse cenário em que os educadores somente seguem uma cartilha na qual não acreditam, que não os estimula e cujos resultados já sabem de antemão serem pífios, o aprendizado não acontece satisfatoriamente; e essa responsabilidade nunca recai sobre quem deveria.

É uma publicação extremamente recomendada a todos os docentes, sejam eles da rede pública ou privada, ou de que etapa de ensino forem, tendo em vista que os prepara para analisar os livros didáticos de maneira mais crítica, tornando-os mais conscientes em relação à máquina em que estão inseridos e fornecendo-lhes argumentos para resistir a algumas metodologias impostas por quem organiza a educação em nosso país.

Para mim, inclusive, foi uma enorme honra realizar a leitura dessa obra, porque tenho Franciele Fátima Marques como a competente diretora de uma das escolas na qual leciono, pessoa que, através de sua prática e de sua humanidade, já me ensinou bastante, assim como tive Idanir Ecco como professor durante a realização da minha licenciatura em Letras, profissional que, por meio de suas palavras e de seu cativante jeito de ser, ensinou-me também demais. Muito obrigado por essas oportunidades.

sábado, 26 de abril de 2025

"A banda na garagem", de Moacyr Scliar

Este livro trata-se de uma coletânea de textos do saudoso Moacyr Scliar, um dos escritores mais talentosos que o Rio Grande do Sul e o Brasil já tiveram.

Aqui, Scliar elabora vinte e cinco crônicas ficcionais inspiradas em notícias verdadeiras, sempre de forma muito divertida, criativa e leve, como só esse autor conseguia fazer.

As minhas favoritas foram "A emoção congelada", "A barba do Papai Noel" e "A cura pelo beijo".

sexta-feira, 18 de abril de 2025

"A Hora da Estrela", de Clarice Lispector

Li pela primeira vez este livro enquanto cursava Letras — e já fora uma experiência muito impactante e significativa. Relendo agora, mais de quinze anos depois, creio que posso considerá-lo o meu livro favorito. Pois, aqui, Clarice une uma história acessível (mas também densa) e um estilo simples (porém estudado, porque soa relapso, embora seja bastante lapidado), naquilo que se pode chamar de auge criativo, de pura inspiração.

"A Hora da Estrela" possui poucas páginas, sem ser curto. Tem o tamanho necessário para deixar o leitor com a mesma fome e o mesmo anseio da protagonista Macabéa, se é que essa moça possa ser protagonista de qualquer coisa.

Em síntese, na obra, a nordestina Macabéa, paupérrima de tudo, vive desventuras na cidade do Rio de Janeiro, onde tudo e todos abusam da sua inocência, de sua falta de atrativos.

A narrativa mostra aquilo que a própria Clarice (ou Rodrigo S.M.) afirma no decorrer da história: "A vida é um soco no estômago".

E, como se isso não fosse o suficiente, lendo o posfácio redigido por Paulo Gurgel Valente, descobre-se ainda que "A Hora da Estrela" pode ser interpretada de maneiras inimagináveis. Ou seja, em menos de 100 páginas, a autora conseguiu acrescentar camadas e mais camadas de leitura, todas aproveitáveis.

Sublime, simplesmente sublime. Uma oportunidade cultural absolutamente transformadora. Quase que indescritível. Nada do que eu colocar aqui basta.

sexta-feira, 11 de abril de 2025

"Mais longa vida", de Marina Colasanti

Excelente este livro de poesia da talentosíssima Marina Colasanti! Confesso que eu nunca tinha lido nada dela que não fosse literatura infantojuvenil, embora sempre admirasse a qualidade da sua escrita. Então, para mim, seus poemas eram um enigma.

Os versos de Marina são livres, modernos, sensíveis, inspirados. A autora é daquelas que capta a poesia no cotidiano, em instantâneos. Ou seja, é uma poesia natural, espontânea.

Em seus poemas, alguns em italiano, a maioria em português, a poetisa trata sobre paisagens, relacionamentos, momentos, viagens, dentre outros temas, principalmente o meu favorito: a nossa alucinada sociedade. Os meus preferidos foram: "Nos pálidos pés" (onde Marina comenta um peculiar e triste episódio ocorrido durante a guerra); "Um longo percurso" (onde ela analisa o ser humano por meio de uma "tirada culinária"); e "Jogging" (onde Colasanti discorre a respeito do nosso tortuoso estilo de vida).

Simplesmente sublime e agradabilíssimo!

sábado, 5 de abril de 2025

"Escritos", de Mariele Zawierucka Bressan

 - Título: "Escritos"

- Autora: Mariele Zawierucka Bressan

- Editora: EdiFAPES (RS)

- Ano de lançamento: 2025

- Nº. de páginas: 56



"A poesia não é, necessariamente, métrica." (Mariele Zawierucka Bressan, na obra “Escritos”, página 48)


Na apresentação do volume em questão, Mariele erroneamente diminui sua poesia ao afirmar que, ao reler seus textos, tende a se flagelar; que, quando está sozinha, sua autoestima eleva-se, conferindo-lhe coragem (e, por conta disso, trazendo à tona seus escondidos, desencontrados e reencontrados versos); que seus poemas são uma tentativa de falar com voz humana (como se humana não fosse); que, por meio deles, expõe o ridículo que mora em suas entranhas. No entanto, ao se posicionar dessa forma, comprova que tanto a poesia quanto a humanidade estão incrustadas dentro de si.


"Escritos" é um livro constituído por poemas que fluem e dançam, com rimas naturais e ocasionais, nem um pouco forçadas. Seus versos apresentam o ritmo do eletrocardiograma que é a nossa vida — oscilante, resiliente e visceral.  


A autora faz um uso criativo e estratégico das palavras, expressando o máximo com o mínimo de elementos. Além disso, a poetisa joga xadrez com os termos que emprega, formando imagens poéticas inspiradas e lapidadas, buscando a precisão do que sente e do que quer dizer.


Por meio de sua poesia, traz beleza até aos mais temíveis transtornos e dramas humanos; e, de maneira geral, aborda temas variados e relevantes, como: o saudosismo, o estilo de vida moderno, o fazer poético, o protagonismo, o consumismo, o carnaval (e suas máscaras), as angústias individuais, as desigualdades sociais e a política.


Fazendo um à parte, chamou-me atenção a releitura criativa de Quintana e Drummond, aludindo, de maneira equilibrada e sagaz, ao positivismo de um e ao negativismo do outro.


Particularmente, em uma breve análise, meus favoritos foram os títulos "Das incertezas", "Das imperfeições", "Acreditar", "Tanta sola", "Menino do morro", "Releitura", "Cães em bando", "A tecitura", "Sobre a mudança" e "Tempo", sendo esses os que mais me impressionaram a mente e o coração.


Mariele subestima a importância da sua produção, tratando-a como mero passatempo. Mas sua excelente capacidade poética faz parar o tempo enquanto o(a) leitor(a) a degusta. Para mim, esta escritora que se lança tarde na Literatura (antes tarde do que nunca) demonstrou ser superior a muitos(as) autores(as) renomados(as).


Portanto, na minha opinião, "Escritos" é indicado para pessoas sensíveis que desejam ganhar tempo e se deleitar com a boa poesia contemporânea.

sábado, 29 de março de 2025

"Múltipla escolha", de Lya Luft

"A quem achar que sou demais romântica, ou demais pessimista, direi que nem uma coisa nem outra: escrevo sobre a morte porque desejo a vida, e sobre a dor porque acredito na possível alegria. Falo das minhas preocupações porque tenho esperança; espreito a sombra porque acredito em alguma claridade que justifique o universo. [...]" (Lya Luft, em "Múltipla escolha")

Nos ensaios publicados nesta obra, a autora retrata as armadilhas criadas pela sociedade moderna, como o incentivo ao consumismo, as diversas pressões que cada um de nós sofre e a necessidade de reconhecimento e de aprovação. Por outro lado, Lya celebra a existência e as relações humanas, o que a leva a comprovar como a vida seria melhor se pudéssemos nos livrar das ciladas que a própria humanidade elabora, já que o homem é tão racional que constrói as jaulas nas quais será preso e os instrumentos de tortura com os quais será maltratado.

E é muito difícil escaparmos desse estilo de vida frenético e doentio, uma vez que, desde que nascemos, estamos condenados a ele. Contudo, na sina de cada indivíduo, há decisões a serem tomadas, pequenas margens de ação que podemos usar para fazermos escolhas que tornem a nossa caminhada menos tortuosa. Para isso, temos de diminuir o nosso ritmo, analisar a nossa rotina, observar as pessoas ao nosso redor, estar atentos aos sinais, escutar o nosso coração e usar a nossa capacidade de raciocínio. Além disso, se preciso for, recalcular a rota, repensando o nosso trajeto, desenhando uma trajetória que nos deixe mais satisfeitos no final.

Ou seja, "Múltipla escolha" é um livro que nos faz refletir a respeito da nossa vida, dos nossos relacionamentos, das nossas interações com as demais pessoas a nossa volta, das nossas inserções na sociedade e, também, sobre os nossos princípios e valores.

sexta-feira, 14 de março de 2025

"Tubarão", de Peter Benchley

Este é o livro no qual o clássico filme de Steven Spielberg foi baseado. A produção cinematográfica é realmente marcante e imperdível. Porém, se compararmos a obra literária com a fílmica, as páginas devoram as imagens em movimento com a mesma facilidade que o tubarão estraçalha os personagens.

"Tubarão" é muito bem escrito! É envolvente, assustador e permite, sim, várias camadas de leitura.

Após lê-lo, o leitor fica tentado a afirmar que a qualidade do filme é uma afronta ao livro, pois, em suas linhas, as ações são melhor elaboradas, os personagens são mais profundos e interessantes, bem como várias abordagens e assuntos diferentes são desenvolvidos de forma competente.

Por meio da sua narrativa, Peter Benchley construiu um dos maiores tesouros da cultura mundial. Sorte de quem a aproveitar.

sábado, 8 de março de 2025

"Antologia Poética", de Florbela Espanca (Editora Penkal)

Este volume reúne a obra poética completa da autora portuguesa Florbela Espanca, incluindo os títulos: "Livro de Mágoas", "Livro de Sóror Saudade", "Charneca em Flor", "Reliquiae", "Trocando Olhares" e "O Livro d'Ele".

Nessa antologia, o leitor pode testemunhar todo o talento da poetisa lusitana, que escrevia de forma romântica e extremamente melancólica, utilizando-se de muita técnica e naturalidade. A obra revela a genuína dor da autora, cuja produção literária está registrada como uma das mais significativas da Literatura Portuguesa.

Mesmo tendo vivido pouco tempo, Florbela Espanca deixou um legado poético marcante. Sua vida foi interrompida tragicamente no dia do seu aniversário de 36 anos, quando decidiu tirar a própria vida.

sábado, 15 de fevereiro de 2025

"História do Futuro: O Horizonte do Brasil no Século XXI", de Míriam Leitão

O livro "História do Futuro", da jornalista Míriam Leitão, é muito relevante e deveria ser conhecido pelo maior número de pessoas possível.

Ele aborda o cenário brasileiro (e mundial) em seus mais diversos aspectos, revisitando o passado para entender o presente e, a partir de então, projetar o futuro.

É uma obra que proporciona inúmeros aprendizados, de leitura agradável e didática. Por conta disso, em todas as ocasiões nas quais abria esse volume para desfrutá-lo um pouco, descobria fatos interessantes e/ou desconhecidos.

Além disso, sendo uma publicação de 2015, ou seja, de uma década atrás, há várias colocações que Míriam conjectura para o futuro que já estamos conseguindo observar atualmente -- a maioria delas pessimistas, infelizmente, como o ponto de não retorno da Amazônia e o aumento de desastres naturais, como as enchentes e as secas.

Sendo assim, a leitura de "História do Futuro" é profundamente válida, seja para aprender mais sobre o Brasil e o mundo, seja para tornar-se um cidadão mais consciente.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

"O Tango da Velha Guarda", de Arturo Pérez-Reverte

Maravilhoso! Maravilhoso! Simplesmente maravilhoso! O livro em questão é uma verdadeira obra-prima, lapidada com extremo cuidado, pensada em cada detalhe.

A capa de "O Tango da Velha Guarda" já atrai. Nela há uma fotografia em preto e branco da inigualável atriz Grace Kelly, no Hotel Carlton, em Cannes, durante o Festival de Cinema de 1955. O título também é intrigante, pois remete ao sedutor estilo musical e suas raízes.

O enredo aborda os encontros e desencontros entre Max Costa, um dançarino de tango golpista, e Mecha Inzunza, uma belíssima dama da alta sociedade, ocorridos em três momentos distintos da trajetória humana no século XX.

A obra cresce a cada página. Gradativamente, a leitura convida e estimula a virada das folhas de papel. O leitor envolve-se com a história, com os personagens, além de enxergar as situações, sentir os odores, ouvir as canções, experimentar as sensações.

Verdadeiramente, sem qualquer sombra de dúvida, é um dos melhores títulos que já li. E uma preciosa sugestão do saudoso e genial David Coimbra — provavelmente uma das últimas que fez em suas colunas no jornal Zero Hora.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

"Bons dias", de Machado de Assis

"Bons dias" é um livro de crônicas do genial e inigualável Machado de Assis, escritas sob pseudônimo em 1888 e 1889. Por não assinar esses textos, a autoria desse inesgotável escritor só foi descoberta na década de 1950.

As crônicas aqui apresentadas são maravilhosas, pois, além de retratarem o Brasil e sua gente da época, de um ponto de vista genuíno e presente do final do século XIX, o que já seria grandioso, tratam da sociedade contemporânea, uma vez que percebemos os mesmos trejeitos, vícios e comportamentos atualmente, seja na política, na religião ou na vida privada, só para citar alguns exemplos. O autor também discorre a respeito dos estrangeirismos que poluem a língua.

E, para finalizar, o tom irônico e perspicaz de Machado dá um toque especial à obra. Além disso, a habilidade notável do autor de contemplar a essência humana em qualquer época comprova o quanto ele é brilhante, imortal e único.

Uma leitura incrível!

sábado, 4 de janeiro de 2025

"Pedra Encantada e outras histórias", de Rachel de Queiroz

Este livro reúne surpreendentes narrativas da grandiosa Rachel de Queiroz, a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras. 

Aqui, a escritora conta, de forma consistente e instigante, casos peculiares e, por vezes, engraçados, marcados pelo suspense, pelo (ir)real e pelos comportamentos e possibilidades humanas. 

Esta obra revela ao leitor os motivos que fizeram Rachel de Queiroz se tornar uma das autoras brasileiras mais notáveis, uma artista de visão ímpar e talento genuíno.