sexta-feira, 18 de abril de 2025

"A Hora da Estrela", de Clarice Lispector

Li pela primeira vez este livro enquanto cursava Letras — e já fora uma experiência muito impactante e significativa. Relendo agora, mais de quinze anos depois, creio que posso considerá-lo o meu livro favorito. Pois, aqui, Clarice une uma história acessível (mas também densa) e um estilo simples (porém estudado, porque soa relapso, embora seja bastante lapidado), naquilo que se pode chamar de auge criativo, de pura inspiração.

"A Hora da Estrela" possui poucas páginas, sem ser curto. Tem o tamanho necessário para deixar o leitor com a mesma fome e o mesmo anseio da protagonista Macabéa, se é que essa moça possa ser protagonista de qualquer coisa.

Em síntese, na obra, a nordestina Macabéa, paupérrima de tudo, vive desventuras na cidade do Rio de Janeiro, onde tudo e todos abusam da sua inocência, de sua falta de atrativos.

A narrativa mostra aquilo que a própria Clarice (ou Rodrigo S.M.) afirma no decorrer da história: "A vida é um soco no estômago".

E, como se isso não fosse o suficiente, lendo o posfácio redigido por Paulo Gurgel Valente, descobre-se ainda que "A Hora da Estrela" pode ser interpretada de maneiras inimagináveis. Ou seja, em menos de 100 páginas, a autora conseguiu acrescentar camadas e mais camadas de leitura, todas aproveitáveis.

Sublime, simplesmente sublime. Uma oportunidade cultural absolutamente transformadora. Quase que indescritível. Nada do que eu colocar aqui basta.

sexta-feira, 11 de abril de 2025

"Mais longa vida", de Marina Colasanti

Excelente este livro de poesia da talentosíssima Marina Colasanti! Confesso que eu nunca tinha lido nada dela que não fosse literatura infantojuvenil, embora sempre admirasse a qualidade da sua escrita. Então, para mim, seus poemas eram um enigma.

Os versos de Marina são livres, modernos, sensíveis, inspirados. A autora é daquelas que capta a poesia no cotidiano, em instantâneos. Ou seja, é uma poesia natural, espontânea.

Em seus poemas, alguns em italiano, a maioria em português, a poetisa trata sobre paisagens, relacionamentos, momentos, viagens, dentre outros temas, principalmente o meu favorito: a nossa alucinada sociedade. Os meus preferidos foram: "Nos pálidos pés" (onde Marina comenta um peculiar e triste episódio ocorrido durante a guerra); "Um longo percurso" (onde ela analisa o ser humano por meio de uma "tirada culinária"); e "Jogging" (onde Colasanti discorre a respeito do nosso tortuoso estilo de vida).

Simplesmente sublime e agradabilíssimo!

sábado, 5 de abril de 2025

"Escritos", de Mariele Zawierucka Bressan

 - Título: "Escritos"

- Autora: Mariele Zawierucka Bressan

- Editora: EdiFAPES (RS)

- Ano de lançamento: 2025

- Nº. de páginas: 56



"A poesia não é, necessariamente, métrica." (Mariele Zawierucka Bressan, na obra “Escritos”, página 48)


Na apresentação do volume em questão, Mariele erroneamente diminui sua poesia ao afirmar que, ao reler seus textos, tende a se flagelar; que, quando está sozinha, sua autoestima eleva-se, conferindo-lhe coragem (e, por conta disso, trazendo à tona seus escondidos, desencontrados e reencontrados versos); que seus poemas são uma tentativa de falar com voz humana (como se humana não fosse); que, por meio deles, expõe o ridículo que mora em suas entranhas. No entanto, ao se posicionar dessa forma, comprova que tanto a poesia quanto a humanidade estão incrustadas dentro de si.


"Escritos" é um livro constituído por poemas que fluem e dançam, com rimas naturais e ocasionais, nem um pouco forçadas. Seus versos apresentam o ritmo do eletrocardiograma que é a nossa vida — oscilante, resiliente e visceral.  


A autora faz um uso criativo e estratégico das palavras, expressando o máximo com o mínimo de elementos. Além disso, a poetisa joga xadrez com os termos que emprega, formando imagens poéticas inspiradas e lapidadas, buscando a precisão do que sente e do que quer dizer.


Por meio de sua poesia, traz beleza até aos mais temíveis transtornos e dramas humanos; e, de maneira geral, aborda temas variados e relevantes, como: o saudosismo, o estilo de vida moderno, o fazer poético, o protagonismo, o consumismo, o carnaval (e suas máscaras), as angústias individuais, as desigualdades sociais e a política.


Fazendo um à parte, chamou-me atenção a releitura criativa de Quintana e Drummond, aludindo, de maneira equilibrada e sagaz, ao positivismo de um e ao negativismo do outro.


Particularmente, em uma breve análise, meus favoritos foram os títulos "Das incertezas", "Das imperfeições", "Acreditar", "Tanta sola", "Menino do morro", "Releitura", "Cães em bando", "A tecitura", "Sobre a mudança" e "Tempo", sendo esses os que mais me impressionaram a mente e o coração.


Mariele subestima a importância da sua produção, tratando-a como mero passatempo. Mas sua excelente capacidade poética faz parar o tempo enquanto o(a) leitor(a) a degusta. Para mim, esta escritora que se lança tarde na Literatura (antes tarde do que nunca) demonstrou ser superior a muitos(as) autores(as) renomados(as).


Portanto, na minha opinião, "Escritos" é indicado para pessoas sensíveis que desejam ganhar tempo e se deleitar com a boa poesia contemporânea.