Li pela primeira vez este livro enquanto cursava Letras — e já fora uma experiência muito impactante e significativa. Relendo agora, mais de quinze anos depois, creio que posso considerá-lo o meu livro favorito. Pois, aqui, Clarice une uma história acessível (mas também densa) e um estilo simples (porém estudado, porque soa relapso, embora seja bastante lapidado), naquilo que se pode chamar de auge criativo, de pura inspiração.
"A Hora da Estrela" possui poucas páginas, sem ser curto. Tem o tamanho necessário para deixar o leitor com a mesma fome e o mesmo anseio da protagonista Macabéa, se é que essa moça possa ser protagonista de qualquer coisa.
Em síntese, na obra, a nordestina Macabéa, paupérrima de tudo, vive desventuras na cidade do Rio de Janeiro, onde tudo e todos abusam da sua inocência, de sua falta de atrativos.
A narrativa mostra aquilo que a própria Clarice (ou Rodrigo S.M.) afirma no decorrer da história: "A vida é um soco no estômago".
E, como se isso não fosse o suficiente, lendo o posfácio redigido por Paulo Gurgel Valente, descobre-se ainda que "A Hora da Estrela" pode ser interpretada de maneiras inimagináveis. Ou seja, em menos de 100 páginas, a autora conseguiu acrescentar camadas e mais camadas de leitura, todas aproveitáveis.
Sublime, simplesmente sublime. Uma oportunidade cultural absolutamente transformadora. Quase que indescritível. Nada do que eu colocar aqui basta.