sábado, 24 de maio de 2025

"Reunião de poesia", de Adélia Prado

"Reunião de poesia", de Adélia Prado, é uma coletânea que reúne 150 poemas dos livros "Bagagem" (1976), "O coração disparado" (1978), "Terra de Santa Cruz" (1981), "O pelicano" (1987), "A faca no peito" (1988), "Oráculos de maio" (1999) e "A duração do dia" (2010).

Adélia Prado escreve sobre temas do dia a dia com muita sensibilidade. Ela usa uma linguagem acessível para enaltecer a beleza nas coisas comuns. Sua poesia soa despretensiosa e displicente, mas é exatamente isso que a autora deseja: mostrar que é na simplicidade, na vida de qualquer pessoa, que mora a poesia — basta saber captá-la. Suas obras falam sobre a vida, espiritualidade e a busca por significado, sempre com um toque de melancolia e celebração da existência.

quarta-feira, 21 de maio de 2025

"Educação para todas as vidas: um novo olhar para a vida, um rumo novo para a educação", de Mauro José Santin

Em "Educação para todas as vidas", o plural Mauro José Santin intercala trechos em que narra a sua própria trajetória com reflexões a respeito de como a nossa doente e automatizada sociedade vive e, consequentemente, de como a humanidade enxerga a educação de modo a inserir esses novos seres humanos nesse mesmo mecanismo doentio e sem sentido.

Nesse contexto, o autor sugere a todos formas menos alienantes e automáticas de deixarem as suas marcas nesta existência, assim como propõe maneiras de organizar a educação, para que os indivíduos tenham mais consciência de si mesmos, do outro, de seu papel no mundo e de como realmente podem ser protagonistas ignorando as diversas "podas" socialmente estabelecidas.

De minha parte, confesso que já era um grande fã da escrita de Mauro Santin, do jeito que ele saboreia as palavras -- (re)descobrindo significados, atentando aos elementos que as compõem e encontrando a poesia sob qualquer circunstância. E, somadas a essa maneira brilhante de redigir, há ideias e ideais interessantes de verdade e diagnósticos infelizmente certeiros.

Enfim, "Educação para todas as vidas" prova ser uma obra que deleita e ensina, cujas páginas certamente ajudam a tornar seus leitores melhores.

sexta-feira, 16 de maio de 2025

"A riqueza do mundo", de Lya Luft

"A riqueza do mundo", de Lya Luft, explora temas fundamentais, como o amor, a perda, a busca pela felicidade e a complexidade das relações humanas. A escrita da autora é envolvente e intimista, permitindo ao leitor mergulhar em um universo introspectivo, que convida a pensar.

Comparando com "Múltipla escolha", obra sobre a qual já comentei há algumas postagens, é possível perceber uma evolução no estilo narrativo e na abordagem dos assuntos. Enquanto aquele já mostrava a habilidade de Luft em propor reflexões relevantes e profundas, este parece aprimorar ainda mais essa capacidade, oferecendo uma visão mais madura e elaborada das questões tratadas.

Ambos os títulos destacam-se pela forma como a escritora utiliza sua experiência de vida e seu olhar peculiar para trazer à tona aspectos existenciais, trazendo uma perspectiva abrangente e lúcida sobre o mundo ao nosso redor. "A riqueza do mundo" pode ser vista, portanto, como uma continuação natural e um aprofundamento das reflexões presentes em "Múltipla escolha".

quinta-feira, 8 de maio de 2025

"Vidas Secas", de Graciliano Ramos

Ao ler "Vidas Secas", o leitor entende por que este livro trata-se de um clássico inquestionável.

Na obra, as vidas retratadas por Graciliano são secas de intelecto, de humanidade, de dignidade. Ou seja, a terra é seca, mas as pessoas são mais.

A narrativa é completamente envolvente. O leitor vive o sofrimento junto dos personagens, que vivem como nômades em busca da esperança do verde e da limpidez da água.

E, por falar em personagens, a cachorra Baleia é uma das figuras mais emblemáticas da Literatura, pois, por meio dela, observamos a família e as suas próprias abstrações. Além disso, até a metade da leitura, temos a impressão de que a cadela é o ser mais racional do grupo. E é só depois que ela se vai que os membros do agrupamento tornam-se menos animalescos.

Para finalizar, admito que o capítulo 9, intitulado "Baleia", é uma das seções mais sublimes e comoventes que já tive a experiência de ler.

sábado, 3 de maio de 2025

"Desvelando belas mentiras", de Franciele Fátima Marques e Idanir Ecco

- Título: "Desvelando belas mentiras: alienação e ideologia nos livros didáticos"

- Autores: Franciele Fátima Marques e Idanir Ecco

- Editora: EdiFAPES (RS)

- Ano de lançamento: 2017

- Nº. de páginas: 132


O livro “Desvelando belas mentiras”, de Franciele Marques e Idanir Ecco, de modo a abordar de forma bastante completa a temática a que se propõe, traz aos leitores as noções de alienação encontradas nas obras de Hegel e Marx, bem como o conceito de ideologia elaborado por Marx e Engels, trazendo, posteriormente, esses enfoques dentro da educação. Ainda, trata de como os livros didáticos surgiram no decorrer da história da educação, e como esse processo se deu no Brasil. Em seguida, para ilustrar esses fundamentos teóricos apontados pelos autores, elenca exemplos de como a alienação e a ideologia podem ser identificadas nos livros didáticos, em aspectos como: raça, cor e gênero; família e suas possíveis estruturas; concepções de trabalho; o índio visto por um prisma preconceituoso; desigualdade social e consumo; esporte e lazer; também, acesso às novas tecnologias. Por fim, discorre a respeito das propostas de educação que seus elaboradores creem ser a mais adequada ao contexto nacional.

Esse título surpreendeu-me bastante, pois mostra que os materiais didáticos engessados vão muito além da escolha deprimente de textos, que, muitas vezes, não instigam nem os docentes à leitura, e da precariedade das explicações, que tornam o processo de ensino-aprendizagem quase impraticável. “Desvelando belas mentiras” aponta que essas publicações, completamente dissociadas da realidade vivida pela maior parte dos estudantes da rede pública de ensino, não têm nada de inocentes. Estão, sim, a serviço de uma visão de mundo elitista e segregadora, cujos meios convergem para o preconceito, o consumismo, o conformismo e ideias distorcidas de trabalho, família, alimentação e práticas esportivas, só para citar alguns exemplos.

Aqui, Franciele e Idanir afirmam que, enquanto os(as) professores(as) não tiverem a autonomia de escolher os seus materiais didáticos, atentando à realidade discente, bem como buscando promover o protagonismo e o engajamento por parte dos estudantes, a educação não funcionará de maneira eficiente, uma vez que, nesse cenário em que os educadores somente seguem uma cartilha na qual não acreditam, que não os estimula e cujos resultados já sabem de antemão serem pífios, o aprendizado não acontece satisfatoriamente; e essa responsabilidade nunca recai sobre quem deveria.

É uma publicação extremamente recomendada a todos os docentes, sejam eles da rede pública ou privada, ou de que etapa de ensino forem, tendo em vista que os prepara para analisar os livros didáticos de maneira mais crítica, tornando-os mais conscientes em relação à máquina em que estão inseridos e fornecendo-lhes argumentos para resistir a algumas metodologias impostas por quem organiza a educação em nosso país.

Para mim, inclusive, foi uma enorme honra realizar a leitura dessa obra, porque tenho Franciele Fátima Marques como a competente diretora de uma das escolas na qual leciono, pessoa que, através de sua prática e de sua humanidade, já me ensinou bastante, assim como tive Idanir Ecco como professor durante a realização da minha licenciatura em Letras, profissional que, por meio de suas palavras e de seu cativante jeito de ser, ensinou-me também demais. Muito obrigado por essas oportunidades.