sexta-feira, 16 de maio de 2025

"A riqueza do mundo", de Lya Luft

"A riqueza do mundo", de Lya Luft, explora temas fundamentais, como o amor, a perda, a busca pela felicidade e a complexidade das relações humanas. A escrita da autora é envolvente e intimista, permitindo ao leitor mergulhar em um universo introspectivo, que convida a pensar.

Comparando com "Múltipla escolha", obra sobre a qual já comentei há algumas postagens, é possível perceber uma evolução no estilo narrativo e na abordagem dos assuntos. Enquanto aquele já mostrava a habilidade de Luft em propor reflexões relevantes e profundas, este parece aprimorar ainda mais essa capacidade, oferecendo uma visão mais madura e elaborada das questões tratadas.

Ambos os títulos destacam-se pela forma como a escritora utiliza sua experiência de vida e seu olhar peculiar para trazer à tona aspectos existenciais, trazendo uma perspectiva abrangente e lúcida sobre o mundo ao nosso redor. "A riqueza do mundo" pode ser vista, portanto, como uma continuação natural e um aprofundamento das reflexões presentes em "Múltipla escolha".

quinta-feira, 8 de maio de 2025

"Vidas Secas", de Graciliano Ramos

Ao ler "Vidas Secas", o leitor entende por que este livro trata-se de um clássico inquestionável.

Na obra, as vidas retratadas por Graciliano são secas de intelecto, de humanidade, de dignidade. Ou seja, a terra é seca, mas as pessoas são mais.

A narrativa é completamente envolvente. O leitor vive o sofrimento junto dos personagens, que vivem como nômades em busca da esperança do verde e da limpidez da água.

E, por falar em personagens, a cachorra Baleia é uma das figuras mais emblemáticas da Literatura, pois, por meio dela, observamos a família e as suas próprias abstrações. Além disso, até a metade da leitura, temos a impressão de que a cadela é o ser mais racional do grupo. E é só depois que ela se vai que os membros do agrupamento tornam-se menos animalescos.

Para finalizar, admito que o capítulo 9, intitulado "Baleia", é uma das seções mais sublimes e comoventes que já tive a experiência de ler.

sábado, 3 de maio de 2025

"Desvelando belas mentiras", de Franciele Fátima Marques e Idanir Ecco

- Título: "Desvelando belas mentiras: alienação e ideologia nos livros didáticos"

- Autores: Franciele Fátima Marques e Idanir Ecco

- Editora: EdiFAPES (RS)

- Ano de lançamento: 2017

- Nº. de páginas: 132


O livro “Desvelando belas mentiras”, de Franciele Marques e Idanir Ecco, de modo a abordar de forma bastante completa a temática a que se propõe, traz aos leitores as noções de alienação encontradas nas obras de Hegel e Marx, bem como o conceito de ideologia elaborado por Marx e Engels, trazendo, posteriormente, esses enfoques dentro da educação. Ainda, trata de como os livros didáticos surgiram no decorrer da história da educação, e como esse processo se deu no Brasil. Em seguida, para ilustrar esses fundamentos teóricos apontados pelos autores, elenca exemplos de como a alienação e a ideologia podem ser identificadas nos livros didáticos, em aspectos como: raça, cor e gênero; família e suas possíveis estruturas; concepções de trabalho; o índio visto por um prisma preconceituoso; desigualdade social e consumo; esporte e lazer; também, acesso às novas tecnologias. Por fim, discorre a respeito das propostas de educação que seus elaboradores creem ser a mais adequada ao contexto nacional.

Esse título surpreendeu-me bastante, pois mostra que os materiais didáticos engessados vão muito além da escolha deprimente de textos, que, muitas vezes, não instigam nem os docentes à leitura, e da precariedade das explicações, que tornam o processo de ensino-aprendizagem quase impraticável. “Desvelando belas mentiras” aponta que essas publicações, completamente dissociadas da realidade vivida pela maior parte dos estudantes da rede pública de ensino, não têm nada de inocentes. Estão, sim, a serviço de uma visão de mundo elitista e segregadora, cujos meios convergem para o preconceito, o consumismo, o conformismo e ideias distorcidas de trabalho, família, alimentação e práticas esportivas, só para citar alguns exemplos.

Aqui, Franciele e Idanir afirmam que, enquanto os(as) professores(as) não tiverem a autonomia de escolher os seus materiais didáticos, atentando à realidade discente, bem como buscando promover o protagonismo e o engajamento por parte dos estudantes, a educação não funcionará de maneira eficiente, uma vez que, nesse cenário em que os educadores somente seguem uma cartilha na qual não acreditam, que não os estimula e cujos resultados já sabem de antemão serem pífios, o aprendizado não acontece satisfatoriamente; e essa responsabilidade nunca recai sobre quem deveria.

É uma publicação extremamente recomendada a todos os docentes, sejam eles da rede pública ou privada, ou de que etapa de ensino forem, tendo em vista que os prepara para analisar os livros didáticos de maneira mais crítica, tornando-os mais conscientes em relação à máquina em que estão inseridos e fornecendo-lhes argumentos para resistir a algumas metodologias impostas por quem organiza a educação em nosso país.

Para mim, inclusive, foi uma enorme honra realizar a leitura dessa obra, porque tenho Franciele Fátima Marques como a competente diretora de uma das escolas na qual leciono, pessoa que, através de sua prática e de sua humanidade, já me ensinou bastante, assim como tive Idanir Ecco como professor durante a realização da minha licenciatura em Letras, profissional que, por meio de suas palavras e de seu cativante jeito de ser, ensinou-me também demais. Muito obrigado por essas oportunidades.

sábado, 26 de abril de 2025

"A banda na garagem", de Moacyr Scliar

Este livro trata-se de uma coletânea de textos do saudoso Moacyr Scliar, um dos escritores mais talentosos que o Rio Grande do Sul e o Brasil já tiveram.

Aqui, Scliar elabora vinte e cinco crônicas ficcionais inspiradas em notícias verdadeiras, sempre de forma muito divertida, criativa e leve, como só esse autor conseguia fazer.

As minhas favoritas foram "A emoção congelada", "A barba do Papai Noel" e "A cura pelo beijo".

sexta-feira, 18 de abril de 2025

"A Hora da Estrela", de Clarice Lispector

Li pela primeira vez este livro enquanto cursava Letras — e já fora uma experiência muito impactante e significativa. Relendo agora, mais de quinze anos depois, creio que posso considerá-lo o meu livro favorito. Pois, aqui, Clarice une uma história acessível (mas também densa) e um estilo simples (porém estudado, porque soa relapso, embora seja bastante lapidado), naquilo que se pode chamar de auge criativo, de pura inspiração.

"A Hora da Estrela" possui poucas páginas, sem ser curto. Tem o tamanho necessário para deixar o leitor com a mesma fome e o mesmo anseio da protagonista Macabéa, se é que essa moça possa ser protagonista de qualquer coisa.

Em síntese, na obra, a nordestina Macabéa, paupérrima de tudo, vive desventuras na cidade do Rio de Janeiro, onde tudo e todos abusam da sua inocência, de sua falta de atrativos.

A narrativa mostra aquilo que a própria Clarice (ou Rodrigo S.M.) afirma no decorrer da história: "A vida é um soco no estômago".

E, como se isso não fosse o suficiente, lendo o posfácio redigido por Paulo Gurgel Valente, descobre-se ainda que "A Hora da Estrela" pode ser interpretada de maneiras inimagináveis. Ou seja, em menos de 100 páginas, a autora conseguiu acrescentar camadas e mais camadas de leitura, todas aproveitáveis.

Sublime, simplesmente sublime. Uma oportunidade cultural absolutamente transformadora. Quase que indescritível. Nada do que eu colocar aqui basta.

sexta-feira, 11 de abril de 2025

"Mais longa vida", de Marina Colasanti

Excelente este livro de poesia da talentosíssima Marina Colasanti! Confesso que eu nunca tinha lido nada dela que não fosse literatura infantojuvenil, embora sempre admirasse a qualidade da sua escrita. Então, para mim, seus poemas eram um enigma.

Os versos de Marina são livres, modernos, sensíveis, inspirados. A autora é daquelas que capta a poesia no cotidiano, em instantâneos. Ou seja, é uma poesia natural, espontânea.

Em seus poemas, alguns em italiano, a maioria em português, a poetisa trata sobre paisagens, relacionamentos, momentos, viagens, dentre outros temas, principalmente o meu favorito: a nossa alucinada sociedade. Os meus preferidos foram: "Nos pálidos pés" (onde Marina comenta um peculiar e triste episódio ocorrido durante a guerra); "Um longo percurso" (onde ela analisa o ser humano por meio de uma "tirada culinária"); e "Jogging" (onde Colasanti discorre a respeito do nosso tortuoso estilo de vida).

Simplesmente sublime e agradabilíssimo!

sábado, 5 de abril de 2025

"Escritos", de Mariele Zawierucka Bressan

 - Título: "Escritos"

- Autora: Mariele Zawierucka Bressan

- Editora: EdiFAPES (RS)

- Ano de lançamento: 2025

- Nº. de páginas: 56



"A poesia não é, necessariamente, métrica." (Mariele Zawierucka Bressan, na obra “Escritos”, página 48)


Na apresentação do volume em questão, Mariele erroneamente diminui sua poesia ao afirmar que, ao reler seus textos, tende a se flagelar; que, quando está sozinha, sua autoestima eleva-se, conferindo-lhe coragem (e, por conta disso, trazendo à tona seus escondidos, desencontrados e reencontrados versos); que seus poemas são uma tentativa de falar com voz humana (como se humana não fosse); que, por meio deles, expõe o ridículo que mora em suas entranhas. No entanto, ao se posicionar dessa forma, comprova que tanto a poesia quanto a humanidade estão incrustadas dentro de si.


"Escritos" é um livro constituído por poemas que fluem e dançam, com rimas naturais e ocasionais, nem um pouco forçadas. Seus versos apresentam o ritmo do eletrocardiograma que é a nossa vida — oscilante, resiliente e visceral.  


A autora faz um uso criativo e estratégico das palavras, expressando o máximo com o mínimo de elementos. Além disso, a poetisa joga xadrez com os termos que emprega, formando imagens poéticas inspiradas e lapidadas, buscando a precisão do que sente e do que quer dizer.


Por meio de sua poesia, traz beleza até aos mais temíveis transtornos e dramas humanos; e, de maneira geral, aborda temas variados e relevantes, como: o saudosismo, o estilo de vida moderno, o fazer poético, o protagonismo, o consumismo, o carnaval (e suas máscaras), as angústias individuais, as desigualdades sociais e a política.


Fazendo um à parte, chamou-me atenção a releitura criativa de Quintana e Drummond, aludindo, de maneira equilibrada e sagaz, ao positivismo de um e ao negativismo do outro.


Particularmente, em uma breve análise, meus favoritos foram os títulos "Das incertezas", "Das imperfeições", "Acreditar", "Tanta sola", "Menino do morro", "Releitura", "Cães em bando", "A tecitura", "Sobre a mudança" e "Tempo", sendo esses os que mais me impressionaram a mente e o coração.


Mariele subestima a importância da sua produção, tratando-a como mero passatempo. Mas sua excelente capacidade poética faz parar o tempo enquanto o(a) leitor(a) a degusta. Para mim, esta escritora que se lança tarde na Literatura (antes tarde do que nunca) demonstrou ser superior a muitos(as) autores(as) renomados(as).


Portanto, na minha opinião, "Escritos" é indicado para pessoas sensíveis que desejam ganhar tempo e se deleitar com a boa poesia contemporânea.