sábado, 20 de abril de 2019

"O Diário de Anne Frank"

"O Diário de Anne Frank" me surpreendeu de diversas maneiras. Antes de lê-lo, havia ouvido alguma coisa sobre ele aqui e ali, durante toda a minha vida. Mas nada que possa ser comparado às experiências que o leitura do livro me proporcionou.

A obra trata sobre a permanência das famílias Frank, Van Pels e do dentista Fritz Pfeffer, todos judeus, em um esconderijo na Holanda, na ocasião da Segunda Guerra Mundial.

Porém, mais do que isso, a inteligente e notável adolescente Anne traz ao leitor as suas angústias, a sua chegada à adolescência, seus conflitos com os indivíduos do esconderijo, suas primeiras paixões, sua perspicaz visão em relação à guerra, dentre outros assuntos.

No diário, é possível conhecer de verdade a pessoa Anne Frank, que sonhava em se tornar uma escritora; que queria ser notada, amada e respeitada; que tornou-se adulta precocemente, diante das trágicas circunstâncias.

Enquanto escritor e professor de Língua Portuguesa, achei bem interessante o fato de que ela não escrevia para si mesma, como qualquer outra adolescente faria. Anne inventou uma personagem, Kitty, e, escrevendo cartas para Kitty, elaborou o seu diário. Isso é um conhecimento (ou uma intuição) fantástico para uma menina da idade dela: sempre imaginar o público-alvo, o leitor, no momento de escrever qualquer coisa.

Além disso, por vezes a argumentação de Anne foi tão consciente, tão pronta, tão madura, que eu imaginava estar lendo um romance de alguma autora renomada, e não o diário de uma garota de 13, 14, 15 anos.

E, para finalizar, enquanto leitor, o livro mexeu comigo profundamente, pois, apesar da situação horrível que estava vivendo, Anne manteve-se esperançosa, viva (muito viva), cheia de projetos para "depois da guerra". Contudo, de repente, três ou quatro dias após a não-planejada derradeira "carta" para Kitty, ela e os outros foram encontrados. Por conta disso, há no livro o relato de alguém, talvez de seu pai Otto Frank, o único sobrevivente, dizendo o que havia acontecido com os oito seres humanos que estavam escondidos. E é chocante porque, quando assistimos aos terríveis e inacreditáveis vídeos reais dos campos de concentração nazistas, até custamos a acreditar que aquilo tinha ocorrido, que aquelas criaturas encontradas nos campos após a libertação eram realmente pessoas (https://www.youtube.com/watch?v=QDt8So601DA). Agora, entrando em contato com uma jovem tão cheia de vida naqueles textos e sabendo, em seguida, que pouquíssimo tempo depois ela foi assassinada por conta do tifo e da situação precária dos campos, tendo sido, na sequência, jogada pelada em uma vala comum, como um boneco imprestável, isso dá outra perspectiva, alça o leitor a um outro patamar de terror, de pena, de desespero, de todas as sensações horríveis que se possa sentir.

domingo, 7 de abril de 2019

"O tigre: uma história real de vingança e sobrevivência", de John Vaillant

O livro "O tigre" é marcado pelo exagero. Nota-se que John Vaillant pretendia originalmente narrar a história real de um tigre que havia atacado, por vingança, um caçador. E, se fôssemos retirar da obra apenas os trechos utilizados para esse objetivo, teríamos um texto bem mais curto, mas bem mais atraente.

A escrita de Vaillant tem méritos notáveis. Percebe-se que ele realizou uma pesquisa minuciosa para selecionar os argumentos para o livro e, por meio de sua narrativa, o leitor consegue imaginar com perfeição a região da Sibéria, cujo cenário é dominado pela taiga.

Contudo, o autor empolgou-se tanto com a obra, incluindo o que descobrira em sua pesquisa, que pecou pelo excesso. "O tigre" apresenta realmente o acontecimento acima descrito, porém mescla a isso informações importantes mas desnecessárias para esse título. Ele insere em um mesmo volume narrativas envolvendo ataques de tigres, assim como tudo o que achou interessante a respeito do tigre-siberiano, do Extremo Oriente Russo, dentre vários outros assuntos mais ou menos ligados ao contexto do livro, misturando tudo isso em uma montagem confusa, lenta e, consequentemente, enfadonha.



"[...] somos tão prisioneiros da nossa experiência subjetiva que, apenas por força de vontade e imaginação, conseguimos abrir mão dela e considerar a experiência e a essência de outra criatura, ou mesmo de outra pessoa."