quinta-feira, 14 de agosto de 2025

"Música para o povo que não ouve", de Cannibal

"Música para o povo que não ouve" reúne a maior parte da obra composta por Cannibal, nome artístico de Marconi de Souza Santos, pernambucano do Alto José do Pinho, bairro recifense que Cannibal e seus companheiros na música tornaram conhecido nacionalmente.

No final dos anos 80, Cannibal formou a primeira banda de punk rock do Recife, a Devotos do Ódio, nome inspirado em um livro de José Louzeiro, que, após sofrer certo preconceito por conta da carga negativa dessa denominação, virou apenas Devotos. E são as músicas desse importante e inspirador grupo que motivaram essa publicação.

Logo no início do volume, há um brilhante e longo relato feito por Marcus ASBarr, parceiro de toda a vida dos Devotos, onde narra, de maneira competente e estimulante, a história desses músicos. Após, há um depoimento incrível do próprio Cannibal. E, para finalizar, as estrelas do show, ou seja, as letras das músicas criadas por Marconi, organizadas por álbum, o que certamente proporciona uma viagem pela trajetória da banda.

O aspecto gráfico do livro é magnífico, começando pelo formato quadrado, remetendo a um LP. Além disso, ao longo das páginas, há fotomontagens compostas por fotografias, cartazes de shows, encartes de fitas demo, recortes de matérias de jornais envolvendo a Devotos, etc. Ainda, o texto da obra utiliza a fonte das antigas máquinas de escrever, o que confere um charme especial ao volume. Por fim, artistas plásticos convidados produziram ilustrações relativas a cada álbum da banda, abrindo a seção correspondente a cada disco.

Devotos não é apenas um grupo de músicos que oferecem há décadas uma significativa contribuição para a música brasileira, mas também, a união de seres verdadeiramente humanos que, apesar de tudo, continuaram em sua comunidade e fazem o que podem, por meio de projetos por eles idealizados, para melhorar as condições de vida do povo do Alto, sobretudo das crianças, de modo a diminuir a violência, a criminalidade, a drogadição, a vulnerabilidade social.

Enfim, para mim, que sou fã da Devotos desde o lançamento do primeiro CD, o "Agora tá valendo", de 1996, "Música para o povo que não ouve" é um tesouro de valor inestimável.

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