domingo, 5 de maio de 2019

"Almanaque da Jovem Guarda: uma viagem aos anos dourados", de J. Fagundes

Esse livro, infelizmente, me decepcionou. Digo isso porque eu realmente estava com vontade de ler algo que me contasse mais sobre os artistas da Jovem Guarda, o que não aconteceu satisfatoriamente por meio da obra em questão.

O que mais a menospreza é o seu texto, que apresenta todos os maiores pecados da escrita: falta de coerência e de coesão; erros de grafia e de concordância. Enfim, a parte textual é tão mal escrita e desorganizada que o leitor custa a entender a respeito de quem ou do que o autor está tratando em determinados trechos.

Contudo, se faltou competência por parte do escritor, faltou também por parte da editora, cuja pressa e ambição permitiram que esse produto chegasse às bancas sem qualquer revisão - o que é comprovado pelo título do material, que na capa é apresentado como sendo o supracitado, na folha de rosto está como "Jovem Guarda" e nas margens das páginas surge como "Uma viagem aos anos dourados e perigosos da Jovem Guarda".

Além disso, há uma introdução toda em latim (acredito eu), que não sei se foi intencional ou mais uma falha editorial.

Por fim, em relação ao conteúdo, não posso confirmar nada quanto à sua correção (ou a ausência dela), uma vez que, caso eu conhecesse tanto sobre o assunto, não teria adquirido esse volume. Mas, de qualquer modo, desagradou-me bastante o fato de discorrer a respeito de poucos cantores da Jovem Guarda e de perder páginas e mais páginas argumentando sobre temas secundários, como o programa do Chacrinha, a Tropicália, dentre outros tantos.

sábado, 20 de abril de 2019

"O Diário de Anne Frank"

"O Diário de Anne Frank" me surpreendeu de diversas maneiras. Antes de lê-lo, havia ouvido alguma coisa sobre ele aqui e ali, durante toda a minha vida. Mas nada que possa ser comparado às experiências que o leitura do livro me proporcionou.

A obra trata sobre a permanência das famílias Frank, Van Pels e do dentista Fritz Pfeffer, todos judeus, em um esconderijo na Holanda, na ocasião da Segunda Guerra Mundial.

Porém, mais do que isso, a inteligente e notável adolescente Anne traz ao leitor as suas angústias, a sua chegada à adolescência, seus conflitos com os indivíduos do esconderijo, suas primeiras paixões, sua perspicaz visão em relação à guerra, dentre outros assuntos.

No diário, é possível conhecer de verdade a pessoa Anne Frank, que sonhava em se tornar uma escritora; que queria ser notada, amada e respeitada; que tornou-se adulta precocemente, diante das trágicas circunstâncias.

Enquanto escritor e professor de Língua Portuguesa, achei bem interessante o fato de que ela não escrevia para si mesma, como qualquer outra adolescente faria. Anne inventou uma personagem, Kitty, e, escrevendo cartas para Kitty, elaborou o seu diário. Isso é um conhecimento (ou uma intuição) fantástico para uma menina da idade dela: sempre imaginar o público-alvo, o leitor, no momento de escrever qualquer coisa.

Além disso, por vezes a argumentação de Anne foi tão consciente, tão pronta, tão madura, que eu imaginava estar lendo um romance de alguma autora renomada, e não o diário de uma garota de 13, 14, 15 anos.

E, para finalizar, enquanto leitor, o livro mexeu comigo profundamente, pois, apesar da situação horrível que estava vivendo, Anne manteve-se esperançosa, viva (muito viva), cheia de projetos para "depois da guerra". Contudo, de repente, três ou quatro dias após a não-planejada derradeira "carta" para Kitty, ela e os outros foram encontrados. Por conta disso, há no livro o relato de alguém, talvez de seu pai Otto Frank, o único sobrevivente, dizendo o que havia acontecido com os oito seres humanos que estavam escondidos. E é chocante porque, quando assistimos aos terríveis e inacreditáveis vídeos reais dos campos de concentração nazistas, até custamos a acreditar que aquilo tinha ocorrido, que aquelas criaturas encontradas nos campos após a libertação eram realmente pessoas (https://www.youtube.com/watch?v=QDt8So601DA). Agora, entrando em contato com uma jovem tão cheia de vida naqueles textos e sabendo, em seguida, que pouquíssimo tempo depois ela foi assassinada por conta do tifo e da situação precária dos campos, tendo sido, na sequência, jogada pelada em uma vala comum, como um boneco imprestável, isso dá outra perspectiva, alça o leitor a um outro patamar de terror, de pena, de desespero, de todas as sensações horríveis que se possa sentir.

domingo, 7 de abril de 2019

"O tigre: uma história real de vingança e sobrevivência", de John Vaillant

O livro "O tigre" é marcado pelo exagero. Nota-se que John Vaillant pretendia originalmente narrar a história real de um tigre que havia atacado, por vingança, um caçador. E, se fôssemos retirar da obra apenas os trechos utilizados para esse objetivo, teríamos um texto bem mais curto, mas bem mais atraente.

A escrita de Vaillant tem méritos notáveis. Percebe-se que ele realizou uma pesquisa minuciosa para selecionar os argumentos para o livro e, por meio de sua narrativa, o leitor consegue imaginar com perfeição a região da Sibéria, cujo cenário é dominado pela taiga.

Contudo, o autor empolgou-se tanto com a obra, incluindo o que descobrira em sua pesquisa, que pecou pelo excesso. "O tigre" apresenta realmente o acontecimento acima descrito, porém mescla a isso informações importantes mas desnecessárias para esse título. Ele insere em um mesmo volume narrativas envolvendo ataques de tigres, assim como tudo o que achou interessante a respeito do tigre-siberiano, do Extremo Oriente Russo, dentre vários outros assuntos mais ou menos ligados ao contexto do livro, misturando tudo isso em uma montagem confusa, lenta e, consequentemente, enfadonha.



"[...] somos tão prisioneiros da nossa experiência subjetiva que, apenas por força de vontade e imaginação, conseguimos abrir mão dela e considerar a experiência e a essência de outra criatura, ou mesmo de outra pessoa."

sexta-feira, 22 de março de 2019

"A relíquia", de Eça de Queiroz

Sempre tive grande dificuldade em apreciar as obras de Eça de Queiroz. Apesar de admirar muito as temáticas propostas em alguns de seus principais títulos, como "O crime do Padre Amaro" e "O primo Basílio", nunca consegui concluir a leitura desses textos, principalmente por considerar excessivamente maçante o seu estilo descritivo e rebuscado demais.

Por outro lado, ao realizar a leitura da póstuma "A cidade e as serras", primeiro em uma adaptação e depois em um original belíssimo que me foi ofertado como presente pela minha cunhada, encontrei ali um Eça diferente, mais leve, mais atrativo, mais genial, perante o meu humilde ponto de vista. E isso me encorajou!

Por isso, quando me deparei com essa edição de "A relíquia", tive algum receio de juntá-la à minha coleção. Contudo, a sinopse do livro me tirou qualquer dúvida.

A obra é protagonizada pelo personagem Teodorico, que, ao ficar órfão de pai e mãe ainda criança, vai morar na casa de sua Tia Patrocínio, rude, rica e (ultra)religiosa. Sabendo-se seu único herdeiro, o malandro Teodorico vive uma existência dupla: na frente da tia, um católico fervoroso; e, pelas suas costas, tomando extremo cuidado, um boêmio mulherengo.

E, diante da oportunidade da sua vida, no momento em que poderia conquistar a certeza de um futuro próspero e livre, o destino acaba lhe pregando uma peça, dando-lhe uma rasteira.

Desse modo, o rapaz acaba percebendo, pelos golpes da consciência, os reais motivos de sua desventura: a hipocrisia e a mentira, que, em nosso mundo, são defeitos (nos tornando piores), mas também qualidades (garantindo a nossa sobrevivência e a convivência em alguns momentos).

A partir daí, toda vez que tende a mentir e a ser hipócrita, Teodorico é salvo pela sua consciência. E é a sua sinceridade e o seu próprio esforço que lhe salvam de uma vida miserável.

No entanto, quando revisita a hipocrisia em outros indivíduos, lamenta que o seu erro foi não ter tido a coragem de afirmar. Pois, segundo ele, caso tivesse persistido na mentira e tido algum poder de improvisação, poderia não ter se dado tão mal.

***

Durante a sua narrativa, sobretudo no cansativo capítulo 3, o autor questiona e ironiza diversos aspectos dos relatos bíblicos, como a ressurreição e algumas opiniões e detalhes observados nos evangelhos. Isso demonstra o caráter crítico e destemido de Eça.

Mas não só de crítica e coragem é feito "A relíquia". Também há muitas situações hilárias e apontamentos dignos de aplausos. Aqui seguem alguns destes - o primeiro discorre a respeito da consciência e o segundo, sobre a coragem de afirmar. Creio que exemplificam bem o teor do livro.



"[...] Eu não sou Jesus de Nazaré, nem outro deus criado pelos homens... Sou anterior aos deuses transitórios; eles dentro em mim nascem; dentro em mim duram; dentro em mim se transformam; dentro em mim se dissolvem; e eternamente permaneço em torno deles e superior a eles, concebendo-os e desfazendo-os, no perpétuo esforço de realizar fora de mim o deus absoluto que em mim sinto. Chamo-me consciência [...]"


"[...] houve um momento em que me faltou esse descarado heroísmo de afirmar, que, batendo na terra com pé forte, ou palidamente elevando os olhos ao céu, cria, através da universal ilusão, ciências e religiões."

sábado, 9 de março de 2019

"Antologia Poética", de Marcos Konder Reis (seleção de Walmir Ayala)

Esta é a minha impressão sobre a poesia de Marcos Konder Reis: densa, pesada, mas belíssima! O autor experimenta as formas, põe à prova as palavras, lapidando cada texto para (não) dizer o que deseja da maneira mais bonita, rebuscada e, sobretudo, própria.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

"Ironias do tempo", de Luis Fernando Verissimo (organizado por Isabel e Adriana Falcão)

O livro "Ironias do tempo" reúne setenta e sete crônicas escritas por Luis Fernando Verissimo, todas publicadas durante os últimos vinte anos (de 1998 a 2018). Os textos, selecionados por Isabel e Adriana Falcão (mãe e filha, respectivamente), retratam, como está sugerido no título, as ironias que o tempo constrói após a passagem de alguns anos, décadas, séculos.

E essa característica é riquíssima na obra de Verissimo. Como cronista, ele não apenas nos fornece um instantâneo do momento que deseja registrar, mas, como um bom fotógrafo faria, também oferece ao público uma interpretação transcendental dos fatos relatados e lapidados por ele. Pode-se dizer, até, que esse é o fator que permite as ironias, as analogias referidas anteriormente.

O autor sempre proporciona aos leitores crônicas mágicas (por encantarem), atraentes (por convidarem à leitura), engraçadas (pelas situações hilárias que cria, na busca pelas melhores comparações - explícitas ou não), inteligentes (por convocarem à reflexão).

Assim, para quem tem interesse por fazer uma leitura agradável, rica e que retoma um pouco da nossa história recente, "Ironias do tempo" é uma dica certeira.

sábado, 9 de fevereiro de 2019

"A sutil arte de ligar o foda-se: uma estratégia inusitada para uma vida melhor", de Mark Manson

O presente livro de Mark Manson pode ser considerado uma obra de autoajuda. Porém, desde o título, não é de maneira alguma tradicional. Pois nele o autor busca liberar os leitores dos fardos que a sociedade moderna impõe a todos nós: seja excelente, seja especial, seja feliz, seja eterno, faça sucesso, dentre outros. E os nomes dos capítulos dão uma noção da argumentação oferecida por Mark: "Nem tente", "A felicidade é um problema", "Você não é especial", "O valor do sofrimento", "Você está sempre fazendo escolhas", "Você está errado em tudo (eu também)", "Fracassar é seguir em frente", "A importância de dizer não", "... E aí você morre".

Mark Manson conversa de forma direta com o seu público, sem medo de dizer, sem medo de palavras fortes, sem medo de impactar, sem medo de rir (inclusive da desgraça). Ele acerta o ponto e trata sobre tópicos que afetam a vida de cada indivíduo, assim como discorre a respeito deles feito um verdadeiro amigo. E é por isso que esse livro não é só mais um dentre tantos.