domingo, 3 de novembro de 2019

"Da mente ao impulso", de Kurpag M.

- Título: “Da mente ao impulso”
- Autor: Kurpag M.
- Editora: Deviant (RS)
- Ano de lançamento: 2017
- Nº. de páginas: 207


A obra “Da mente ao impulso”, elaborada pelo misterioso escritor Kurpag, contém quarenta e seis contos de horror. Dentre eles, destaco: “Ceia natalina”; o brilhante “Narrativa à queima-roupa”; “Carta amassada”; “Paixão, conquista e desilusão”; “Unificação gêmea”; o sensível e belo “Lágrima na capela”; o filosófico “O coveiro idealista”; “Justiça”; e o genial “Casa própria”.

Em todos os títulos, o autor narra atos brutais como se estivesse contando acontecimentos triviais, transformando a pressão exercida sobre cada um e o estilo de vida da humanidade em monstros a serem temidos. No universo de Kurpag, toda e qualquer pessoa é capaz de cometer atrocidades, dependendo de seus estados mental e emocional.

“Da mente ao impulso” revela personagens com doses cavalares de frustração. Sendo assim, aos poucos, a mente prega peças nesses indivíduos, levando-os a uma realidade paralela. E é aí que surge o horror proposto no livro.

A linguagem das histórias é bastante poética, o que permite que a narrativa se dirija a locais inimagináveis, tal qual a mente em funcionamento. Além disso, proporciona ao leitor múltiplas interpretações, tanto em relação a fatos quanto a intencionalidades. Pode-se perceber, ainda, que os textos são cuidadosamente lapidados, de modo a torná-los preciosos e limpos.

A narrativa ocorre em terceira pessoa, mas representa o ponto de vista dos personagens que cometem as atitudes horríveis, como se Kurpag estivesse esmiuçando tudo o que se passa no íntimo das suas figuras dramáticas.

Contudo, penso que, na verdade, esses quase cinquenta contos não são de terror, tendo em vista que não têm nada de amedrontador. Eles são sim asquerosos, pois retratam as facetas mais repugnantes que o ser humano pode demonstrar. São plenamente extremistas, de modo a jogar na cara do leitor aquilo que ele realmente é. Não são construídos para induzir ninguém a virar psicopata, mas sim para tornar as pessoas menos animalescas, menos instintivas, menos bestiais. Para mim, são psicológicos, porque apresentam personagens comuns, que estão logo ali, no cotidiano, e que, após uma soma de fatores, despertam seus monstros interiores.

Enfim, por todos esses aspectos, afirmo que Kurpag merece sincero reconhecimento enquanto autor. E peço que se leia “Da mente ao impulso”, sua primeira publicação, sem vestígios de preconceito e de julgamentos superficiais, assim obtendo, com certeza, uma experiência transformadora.


* Trechos de “Insatisfação Mortal”, um posfácio:

“A anulação da busca pelo caminho real da essência da vida faz com que cada pessoa tenda a devirtuar sua existência e a regrá-la dentro de um conjunto de normas estabelecidas por uma sociedade perdida. A sociedade que nunca se encontrou não possui justificativa para si mesma e engole qualquer resquício de sanidade, justamente por sua própria insatisfação coletiva. [...]” (p. 205)

“[...] O que chamam de viver poderia ser denominado, no máximo, sobreviver. Uma sobrevivência baseada na ilusão. A negação sobre uma sobrevivência insatisfeita.” (p. 206)

domingo, 20 de outubro de 2019

"Emma", de Jane Austen

- Título: “Emma”
- Autora: Jane Austen
- Editora: Lafonte (SP)
- Ano de lançamento: 2018
- Nº. de páginas: 478


Lançado originalmente em 1815, “Emma” foi o último romance publicado em vida por Jane Austen. A obra tem por foco a personagem-título, uma jovem da aristocracia rural que, sem muitas atividades além da tarefa diária de acompanhar o pai já idoso, formula casais dentre as pessoas pertencentes ao seu meio social. Esse “divertimento” nem sempre dá certo, o que coloca Emma em situações constrangedoras e mexe com os sentimentos das moças e dos rapazes envolvidos na confusão.

O livro apresenta a perspicaz e admirável análise social elaborada por Jane Austen. Retrata, também, as diferenças sociais entre as pessoas, revelando as variações de importância entre indivíduos e famílias.

Há, ainda, características recorrentes a personagens existentes em outros títulos pertencentes à bibliografia da autora, tal qual o Sr. Knightley, cujo bom senso representa a razão no decorrer da narrativa e, creio eu, a voz de Jane Austen.

Para mim, é um livro excelente, pois reúne elementos de análise comportamental, de romance histórico, de suspense e de reviravoltas, condições que valorizam muito um texto. Outrossim, a construção de personagens verossímeis e carismáticos mantém o bom andamento da história.

Por tudo isso, “Emma” é recomendado para aqueles que gostam de boas leituras românticas, com envolventes figuras dramáticas, com os quais há várias passagens em que se esmiúça os seus estados psíquico e emocional, sem falar do exame da conduta destes, o que constitui, inclusive, o estudo do funcionamento da sociedade em que a autora se encontrava inserida.


- Jane Austen (1775-1817), nascida em Hampshire, na Inglaterra, começou a escrever muito jovem e, hoje, é considerada uma das principais romancistas inglesas. “Orgulho e Preconceito”, “Razão e Sensibilidade”, “A Abadia de Northanger”, “Emma” e “Persuasão” são alguns de seus principais livros.

domingo, 6 de outubro de 2019

"O Mágico de Oz", de Lyman Frank Baum

Fiquei muito curioso quando me deparei com essa edição com o texto integral de "O Mágico de Oz" em uma livraria, pois a riqueza dos originais perante as adaptações é imensurável, tanto pela quantidade de detalhes que se pode analisar quanto pelas mensagens subentendidas ao longo da narrativa.

E Frank Baum reforça aquilo que sempre pensei: quando se escreve para crianças, na realidade, escreve-se, talvez inconscientemente, para adultos (tendo em vista que não se quer que os futuros adultos cometam os mesmos erros ou se frustrem tanto como os atuais adultos). Nesse sentido, são fantásticas as colocações que o autor faz a respeito da ausência/presença de razão e de sensibilidade nas pessoas. Também, salienta a mensagem de que todos têm algo de especial e são capazes. E, posteriormente, de maneira sutil, desenvolve as seguintes ideias: mesmo que se tenha cérebro, é preciso saber como usá-lo; todos têm medo diante do perigo, portanto a coragem existe nas ocasiões em que se enfrenta esse medo; bem como, o coração só deixa os indivíduos infelizes. O que permite reflexões produtivas a um leitor mais atento.

Enfim, "O Mágico de Oz" é uma obra inesgotável e fundamental, pois, além de fazer parte do imaginário de todos aqueles que têm pelo menos um pouquinho de cultura, sempre tem muito a acrescentar aos leitores de qualquer faixa etária.

domingo, 22 de setembro de 2019

"Noite de Reis", de William Shakespeare

"Noite de Reis" é uma comédia que aborda brincadeiras de mau gosto e manipulação. Apresenta (des)encontros e reencontros. E, por meio de uma personagem feminina vestida de homem, trata sutilmente sobre alguns tabus que sobrevivem até hoje.

Eu, particularmente, achei uma das obras shakespearianas mais agradáveis de se ler.

domingo, 8 de setembro de 2019

"A casa dos pesadelos", de Marcos DeBrito

"A casa dos pesadelos" é uma obra de horror excelente e interessante, pois possui um texto envolvente e moderno, personagens fidedignos, suspense em doses cavalares e um terror surpreendente e real. É um livro que me chamou a atenção, tanto pela história quanto pela parte gráfica.

***

Ao final do volume, há uma prévia das outras publicações da Faro Editorial, que parecem, também, bem boas.

domingo, 25 de agosto de 2019

"A tempestade", de William Shakespeare

"A tempestade" foi a última peça escrita por Shakespeare. Ela trata sobre traição, sofrimento, magia, romance, reconciliação e perdão.

Eu, particularmente, achei um texto muito bom, mas não classifiquei entre os mais especiais. O que tem de mais instigante é o incrível toque do famoso dramaturgo inglês e um epílogo magistralmente escrito.

domingo, 11 de agosto de 2019

"O que terá acontecido a Baby Jane?", de Henry Farrell

Sendo fanático pelo filme homônimo a essa obra, fiquei fascinado pela oportunidade de ler o magnífico livro que deu origem à marcante produção cinematográfica estrelada por Bette Davis e Joan Crawford.

Então, ao começar a leitura, embora estivesse achando o livro brilhante, vi-me inclinado a considerar o filme melhor do que a obra escrita. Isso porque, até o momento em que ocorre uma morte na história, ela parece quase idêntica ao filme. E as diferenças encontradas entre ambas manifestações artísticas são apenas entre personagens e fatos que foram, na minha opinião, aprimoradas no filme.

No entanto, após a situação de morte relatada acima, a narrativa impressa se torna mais arrastada, cadenciada, detalhada, o que, do meu ponto de vista, fez com que o texto soasse superior à imagem.

Mas acredito que as duas produções podem ser consideradas impecáveis, tanto o livro quanto o filme. O livro, pelo pioneirismo e pelo primor do autor no trato literário; o filme, principalmente pelas atuações magistrais de Bette Davis e Joan Crawford.

Essa edição conta, também, com três contos: "O que terá acontecido à prima Charlotte?", "A estreia de Larry Richards", "Primeiro, o ovo".

O primeiro deles foi adaptado ao cinema, com o título de "Hush... Hush, Sweet Charlotte" ou "Com a Maldade na Alma" (no Brasil), ao qual infelizmente ainda não assisti. A história apresenta, página após página, grandes doses de suspense e terror surreal, o que torna a leitura deliciosa e instigante.

O segundo, "A estreia de Larry Richards", fala sobre o mundo artístico, assim como a obra maior desta edição, oferecendo ao leitor uma dose extrema de tensão e drama ao longo da narração dos fatos.

E o último, "Primeiro, o ovo", é uma espécie de analogia, bastante poética, sobre o que acontece com os autores que têm suas histórias adaptadas para o cinema, em Hollywood.

Geniais, todos eles!