sábado, 27 de maio de 2023

"Crônicas dos anos da peste & outras histórias", de David Coimbra

Este livro póstumo do saudoso David Coimbra apresenta aos leitores uma seleção das últimas crônicas publicadas por esse genial escritor.

Como consta na abertura do próprio volume: "As crônicas reunidas neste livro foram publicadas no jornal Zero Hora de Porto Alegre entre outubro de 2019 e maio de 2022. Inclui textos escritos no final de sua estadia de seis anos em tratamento de saúde na cidade de Boston, nos Estados Unidos, e as crônicas escritas no retorno ao Brasil, no início de 2020 até maio de 2022."

O título, então, conta com infindáveis textos do David que tratam não só sobre a peste (pandemia de COVID-19), mas também a respeito de temas diversos, mostrando sempre a versatilidade,  a sensibilidade e a perspicácia apresentadas pelo autor.

E, apesar da vontade de adquiri-lo, relutei muito para concluir esse ato, pois não é um livro barato. Mas, depois de realizar a leitura, afirmo que a compra valeu cada centavo, pois este se tornou o meu título de cabeceira, de tanto que gostei.

domingo, 14 de maio de 2023

"Tropeçália", de Jéferson Assumção

"Tropeçália", esta obra bem gaúcha, cujo nome parodia a Tropicália, é a alcunha, também, de uma banda da ficção/realidade. Nela, Jéferson Assumção conta a história desse grupo musical que existe aos tropeços, ou que sobrevive dos tropeços de seus componentes: dos irmãos George e John, bem como do casal Lena e Deco.

E, por meio da trajetória dos quatro e dos seus apoiadores, o autor traz à tona o contexto do país nas últimas décadas e os tropeços impostos ao povo brasileiro - essa tropeçália inconfiável que sobrevive aos (des)estímulos externos da maneira que consegue.

Além disso, Jéferson brinda o público com referências artísticas, principalmente musicais, assim como envolve os leitores do Rio Grande do Sul com alusões à geografia/paisagem urbana (e rural) encontrada no estado, especialmente quando remete a ruas e bairros da região metropolitana.

Portanto, ler o multimídia "Tropeçália" é uma experiência, no mínimo, interessante.

sábado, 29 de abril de 2023

"A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector

"A paixão segundo G.H." não é para qualquer um; é denso, inesgotável. Pura filosofia. Pura poesia.

Clarice mergulha e nos mostra as profundezas do (não) ser. Clarice divaga, tornando-se cada vez mais doida/lúcida.

Clarice trata sobre os aspectos da existência, incluindo, sim, a paixão em todos os seus significados, das novelas mexicanas à de Cristo.

Clarice e sua obra não envelhecem nem se esgotam. Sempre seduzem; sempre provocam.

domingo, 16 de abril de 2023

"Psicose", de Robert Bloch

Baseado livremente na tenebrosa história de Ed Gein, "Psicose" choca o público até hoje e, por isso, tornou-se um dos maiores clássicos da literatura de horror. Mas é óbvio que Robert Bloch não conseguiu isso sozinho. Na época de sua publicação, o livro chegou às mãos do mestre do suspense Alfred Hitchcock que, fascinado pela narrativa, transformou-a no seu filme mais emblemático.

Em "Psicose", Norman Bates, um homem solitário e excêntrico, envolve-se no curioso sumiço de pessoas que passam pelo estabelecimento da família, o Bates Motel. Envolvida no mistério, encontra-se também a mãe de Norman, Norma Bates, supostamente falecida.

O volume em si é fantástico - especialmente esta edição da Darkside. Adorei a obra! Contudo, ela só reafirmou para mim a genialidade de Alfred Hitchcock, porque surpreendentemente o filme é melhor do que o livro. O cineasta aprimora a história e os personagens, como se dissesse a Robert Bloch: "Observe e aprenda".

Sendo assim, ler "Psicose" é uma experiência magnífica. Mas... assistir ao "Psicose" do Hitchcock é uma experiência obrigatória, tamanha a grandeza dessa joia cinematográfica, cuja perfeição ofusca a obra que a inspirou.

sábado, 1 de abril de 2023

"Quinze dias", de Vitor Martins

Ganhei este livro de presente de uma aluna muito especial. É uma bela recordação dela.

Logo de início, identifiquei-me muito com o personagem principal, chamado Felipe, um adolescente gordo e tímido que não possui autoestima e sofre bullying na escola. O autor trata essas questões com tanta sensibilidade que penso que ele deve ter conhecimento de causa, de como é ser um adolescente inseguro, que não encontra lugar no mundo para si mesmo. Ou seja, Felipe é um personagem bem elaborado e importante para vários jovens.

Na história, que se passa durante as férias de julho, Felipe se vê obrigado a conviver com seu vizinho Caio, também adolescente, durante os quinze dias do título.

Enfim, o livro é escrito de maneira agradável e eficiente, analisa a sociedade e a vida moderna de modo sensível, e trata a atração homoafetiva naturalmente e sem preconceitos; preconceitos esses que estão presentes em personagens secundários da obra.

sábado, 18 de março de 2023

"O retrato de Dorian Gray", de Oscar Wilde

No passado, alimentava uma grande expectativa a respeito deste livro, pelo tamanho de sua fama e pela qualidade do seu autor. Porém, confesso ter me decepcionado um pouco.

É genial o fato de, por conta de uma vontade muito forte, o retrato passar a exibir a degradação física e a podridão de caráter do Dorian Gray -- conforme outros pactos com o lado negro da força existentes na Arte, desta vez representado pelo Lorde Henry (Harry). Ou seja, a premissa é muito boa! Apesar disso, achei a narrativa cansativa e desinteressante, tratando exaustivamente do comportamento e do pensamento da aristocracia (ou burguesia?) inglesa.

Então, é uma obra que considero importante de ser lida a título de conhecimento e autoconhecimento, mas não sinto que tenha sido uma das leituras mais significativas que fiz.

sábado, 4 de março de 2023

"Um sopro de vida", de Clarice Lispector

Romance póstumo de uma das mais geniais autoras da Literatura Brasileira, Clarice Lispector, "Um sopro de vida" é escrito em prosa, mas é pura poesia; é composto por frases desconexas, mas que, na unidade, contam a sua história.

Nele, o diálogo entre dois personagens, o "Autor" e "Ângela Pralini", criatura dele, tecem um quebra-cabeças poético e filosófico, cujo teor revela aquilo que a própria Clarice pensa a respeito do processo de escrita, do mundo em que está inserida, da época, da vida, da morte e dela mesma.

É um livro muito diferente, de agradável leitura e belíssimo em todos os sentidos. Inclusive a edição lida traz, na capa, a inspiração em uma pintura em óleo sobre madeira, intitulada "Amanhecer", feita pela própria Clarice em 1975, o que revela a pluralidade artística da escritora.