"A tecelã de sonhos", de Angela Dutra de Menezes

A escrita de Angela Dutra de Menezes é encantadora! A autora construiu uma narrativa onde o fantástico, o real, o drama e a comédia unem-se para contar a trajetória de vida de Berenice, uma incomum integrante da elite brasileira, repleta de manias (ou esquisitices), de personalidade (ou múltiplas personalidades), que é cobrada por sua família para que seja um modelo de conduta, mas não consegue, pois, em sua força/fragilidade interior, carrega traumas, questionamentos, anseios, ideais, os quais a salvam e a atrapalham em meio à sua turbulenta e atribulada existência.

Angela muda a percepção do leitor no decorrer da narrativa, concluindo-a com um final sublime, digno de um livro elaborado para ficar marcado na Literatura Brasileira, quiçá mundial.

Magnífico!

"A magia da camisa 10", de André Ribeiro e Vladir Lemos

O livro em questão descreve de maneira tão dinâmica quanto precisos toques de bola a trajetória de alguns dos mais geniais jogadores de futebol da História. Consequentemente, os autores percorrem a própria História desse esporte e das Copas do Mundo.

De leitura emocionante e ágil, fez-me sentir em suas páginas as mesmas sensações que experimento quando assisto a documentários sobre esses craques.

Ressalto, por fim, o capítulo de encerramento, no qual André e Vladir tecem comentários que não só tratam a respeito de futebol, mas também da própria vida em sociedade.

"A felicidade é fácil", de Edney Silvestre

Este livro, do brilhante jornalista Edney Silvestre, é delicioso de ler! Ele apresenta uma história envolvendo sequestros, jogos de interesses, desigualdade social, tendo o fim da Ditadura Militar e o governo Fernando Collor como plano de fundo.

O talento do autor como repórter não permite que nenhum detalhe escape à sua percepção, principalmente quando se trata de retratar o Brasil e os brasileiros da época.

A sua narrativa é muito fidedigna e convidativa, então as páginas deslizam pelo olhar fascinado do leitor.

Surpreendente!

"A Correspondência de Fradique Mendes", de Eça de Queirós

"A  Correspondência de Fradique Mendes" é um livro muito curioso, a começar pelo seu protagonista, o qual é um personagem criado por Eça de Queirós e seus amigos Jaime Batalha Reis e Antero de Quental. É peculiar, também, em sua estrutura, pois, em sua primeira metade, o narrador trata sobre a suposta história de vida de Fradique Mendes, enquanto, em sua segunda parte, apresenta quase vinte cartas que este teria enviado a personalidades reais e imaginárias. 

A minha correspondência favorita foi a décima quinta, enviada ao Bento, que fundaria um jornal. A argumentação de Eça, aqui, é de arrepiar, como no trecho: "[...] (o jornal) inventa dissensões novas, como esse antissemitismo nascente, que repetirá, antes que o século finde, as anacrônicas e brutas perseguições medievais." Isso em uma obra publicada oficialmente em 1900, ano de falecimento do autor. Vale a pena conferir!

"Enterrem meu coração na curva do rio", de Dee Brown

Este grande livro narra de forma comovente as enrolações, as enganações, os preconceitos, as batalhas, os massacres e rompimentos de acordo que os brancos cometeram contra os índios da América do Norte.

Observa-se, com extrema tristeza, que nada mudou. O tratamento continua o mesmo, seja na América do Norte ou, aqui, na América do Sul. Os índios continuam sendo vistos com preconceito, como inferiores, como primitivos, como vagabundos; dificilmente são incluídos na sociedade dita civilizada; são parcialmente respeitados quando assumem o estilo de vida dos conquistadores; têm suas terras cobiçadas, negociadas, tomadas; e são enganados, maltratados, usados pelos governantes.

Vê-se que poucos indivíduos e instituições dão valor à vida, à cultura, à história indígena.

Então, "Enterrem meu coração na curva do rio" é um livro triste, necessário e que conta uma realidade ignorada, marginal, que às vezes, invade os centros urbanos para mostrar que existe.

"Faróis Estrábicos na Noite", de Cecília Prada

Antes de realizar a leitura deste magnífico livro de contos, não conhecia Cecília Prada. Apesar disso, "Faróis Estrábicos na Noite" chamou a minha atenção e maravilhou-me a cada página.

Composta pelos contos "Aprendizado", "Têmpera", "Trilhas da madrugada", "Manchas em um tapete persa", "Mané Fulô", "A grande cerimônia do cinema", "Leda Ledo Engano", "Olho e serpente", "Noite de almirante", "Mulher e peixe", "Os consagrados", "Ponto do nunca-mais", "O país dos homens de gelo" e "Os Tambores do Juízo Final", a obra demonstra a excelência da escrita de Cecília e remonta às suas influências, como Guimarães Rosa, Machado de Assis e, pode-se dizer, Clarice Lispector.

Por conta de sua bagagem no jornalismo, a autora traz fatos históricos, épocas e contextos diversos como pano de fundo para os contos, o que os deixa muito mais interessantes. E, pela sua forte atuação no movimento feminista, evidencia muito o papel da mulher em suas narrativas, sempre como pessoas fortes ou lamentavelmente condicionadas por aquilo que vivem ou viveram.

Sendo assim, abarcando os aspectos elencados acima, posso dizer seguramente que este é um dos livros que mais me trouxeram satisfação, tornando-se um dos meus favoritos.

"Crimes de Paixão", de Dalton Trevisan

Dalton Trevisan, paranaense, é um expoente do conto que escreve difícil com um linguajar simples, cotidiano. Seus contos são banais, mas profundos, revelando os demônios interiores dos personagens; isto é, retrata aquilo que mais atormenta o ser humano.

As histórias apresentam aos leitores figuras provocantes e/ou perturbadoras. Nessas narrativas, o maior crime de alguns indivíduos é ter se apaixonado e, consequentemente, ter se afundado em um inferno existencial.

"Crimes de Paixão" é um livro de breve leitura, porém de longo impacto, pois é uma obra verdadeiramente impressionante.