domingo, 17 de junho de 2018

"Bananas podres", de Ferreira Gullar

Buscando uma reflexão extremamente bela sobre o ciclo da vida e a existência humana, o poeta retrata um momento específico de sua infância, envolvendo, é claro, as subestimadas bananas podres, cujo significado se apresenta bem maior do que se poderia imaginar.

Em um livro/álbum que reúne todos os textos escritos por Gullar intitulados "Bananas podres" (uns publicados em 1980, outros, em 2010), o autor ousou realizar também a arte brilhantemente inserida ao longo dos poemas, assim como a escrita dos próprios poemas na sua letra cursiva, o que traz um valor inestimável à obra.

Portanto, um título muito recomendável para ser adquirido e/ou oferecido como presente, tendo em vista a sua importância, em virtude da arte empregada nele, tanto nas colagens e escrita, quanto nos poemas de altíssima qualidade, que me lembram os de Neruda.

domingo, 3 de junho de 2018

"Porque Lulu Bergantim não atravessou o Rubicon", de José Cândido Carvalho

Nessa obra, o autor conta anedotas fictícias que representam a "cultura", o comportamento e os costumes do povo brasileiro. Mais do que aquilo que é narrado nas histórias, vale ressaltar o estilo e a propriedade da escrita de José Cândido Carvalho, um mestre, um exemplar usuário da língua portuguesa.

Enfim, um livro imperdível!

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Vejam, por exemplo, o que J. C. Carvalho escreveu em setembro de 1970:

"[...] Publiquei o primeiro livro em 1939 e o segundo precisamente vinte e cinco anos depois. [...] Apareceu o imposto de renda, apareceu Adolf Hitler e o enfarte apareceu. Veio a bomba atômica, veio o transplante. E a Lua deixou de ser dos namorados. Sobrevivi a todas essas catástrofes. E agora, não tendo mais o que inventar, inventaram a tal da poluição, que é doença própria de máquinas e parafusos. Que mata os verdes da terra e o azul do céu. Esse tempo não foi feito para mim. Um dia não vai haver mais pássaros e rosas. Vão trocar o sabiá pelo computador. Estou certo que esse monstro, feito de mil astúcias e mil ferrinhos, não leva em consideração o canto do galo nem o brotar das madrugadas. Um mundo assim, primo, não está mais por conta de Deus. Já está agindo por conta própria."

(CARVALHO, J. C.. Porque Lulu Bergantim não atravessou o Rubicon. Rocco: Rio de Janeiro, 2003. p. 8.)