domingo, 17 de novembro de 2019

"O homem de lata", de Sarah Winman

"O homem de lata" é um livro que não conseguiu me cativar. Talvez por não ter ido ao encontro das minhas expectativas. Pelo contrário, foi muito de encontro àquilo que esperava dele!

A autora cita grandes artistas e localidades europeias para tornar a narrativa mais charmosa. Inclusive utilizou o recurso de elaborar um estilo que vai e vem no tempo (o que dá um nó na cabeça de um leitor mais desatento). Tudo isso embalado por um tom melancólico, saudosista.

Posso afirmar que a obra possui personagens que dizem, dizem, dizem, sem dizer realmente nada. É uma história solta no tempo, envolvendo o verdadeiro amor, a verdadeira amizade, a verdadeira contemplação, além de dramas, alegrias, escolhas, obrigações, preconceito, aceitação, perdas e ganhos.

Observando os temas que foram acima mencionados, até parece um título interessante. Porém, sinto que a escritora pretendia bem mais do que obteve.

domingo, 3 de novembro de 2019

"Da mente ao impulso", de Kurpag M.

- Título: “Da mente ao impulso”
- Autor: Kurpag M.
- Editora: Deviant (RS)
- Ano de lançamento: 2017
- Nº. de páginas: 207


A obra “Da mente ao impulso”, elaborada pelo misterioso escritor Kurpag, contém quarenta e seis contos de horror. Dentre eles, destaco: “Ceia natalina”; o brilhante “Narrativa à queima-roupa”; “Carta amassada”; “Paixão, conquista e desilusão”; “Unificação gêmea”; o sensível e belo “Lágrima na capela”; o filosófico “O coveiro idealista”; “Justiça”; e o genial “Casa própria”.

Em todos os títulos, o autor narra atos brutais como se estivesse contando acontecimentos triviais, transformando a pressão exercida sobre cada um e o estilo de vida da humanidade em monstros a serem temidos. No universo de Kurpag, toda e qualquer pessoa é capaz de cometer atrocidades, dependendo de seus estados mental e emocional.

“Da mente ao impulso” revela personagens com doses cavalares de frustração. Sendo assim, aos poucos, a mente prega peças nesses indivíduos, levando-os a uma realidade paralela. E é aí que surge o horror proposto no livro.

A linguagem das histórias é bastante poética, o que permite que a narrativa se dirija a locais inimagináveis, tal qual a mente em funcionamento. Além disso, proporciona ao leitor múltiplas interpretações, tanto em relação a fatos quanto a intencionalidades. Pode-se perceber, ainda, que os textos são cuidadosamente lapidados, de modo a torná-los preciosos e limpos.

A narrativa ocorre em terceira pessoa, mas representa o ponto de vista dos personagens que cometem as atitudes horríveis, como se Kurpag estivesse esmiuçando tudo o que se passa no íntimo das suas figuras dramáticas.

Contudo, penso que, na verdade, esses quase cinquenta contos não são de terror, tendo em vista que não têm nada de amedrontador. Eles são sim asquerosos, pois retratam as facetas mais repugnantes que o ser humano pode demonstrar. São plenamente extremistas, de modo a jogar na cara do leitor aquilo que ele realmente é. Não são construídos para induzir ninguém a virar psicopata, mas sim para tornar as pessoas menos animalescas, menos instintivas, menos bestiais. Para mim, são psicológicos, porque apresentam personagens comuns, que estão logo ali, no cotidiano, e que, após uma soma de fatores, despertam seus monstros interiores.

Enfim, por todos esses aspectos, afirmo que Kurpag merece sincero reconhecimento enquanto autor. E peço que se leia “Da mente ao impulso”, sua primeira publicação, sem vestígios de preconceito e de julgamentos superficiais, assim obtendo, com certeza, uma experiência transformadora.


* Trechos de “Insatisfação Mortal”, um posfácio:

“A anulação da busca pelo caminho real da essência da vida faz com que cada pessoa tenda a devirtuar sua existência e a regrá-la dentro de um conjunto de normas estabelecidas por uma sociedade perdida. A sociedade que nunca se encontrou não possui justificativa para si mesma e engole qualquer resquício de sanidade, justamente por sua própria insatisfação coletiva. [...]” (p. 205)

“[...] O que chamam de viver poderia ser denominado, no máximo, sobreviver. Uma sobrevivência baseada na ilusão. A negação sobre uma sobrevivência insatisfeita.” (p. 206)