quarta-feira, 26 de novembro de 2025

"A arte do guerreiro lúcido", de Octavio Caruso


- Título: "A arte do guerreiro lúcido"
- Autor: Octavio Caruso
- Editora: Jaguatirica (RJ)
- Ano de lançamento: 2017
- Nº. de páginas: 222
 
 
Em seu segundo livro, cujo título é "A arte do guerreiro lúcido", o escritor, crítico de cinema, ator, roteirista e cineasta carioca Octavio Caruso tece uma narrativa vivida por personagens, muitas vezes, nem tão fictícios, a exemplo do protagonista Antonio, alter ego literário do autor. Ele utiliza esse romance como plano de fundo para retratar o panorama brasileiro atual sob vários aspectos (político, cultural, educacional, moral).
 
Nas páginas desta obra, Caruso mescla realidade, ficção, passado, presente e futuro, explorando as possibilidades do gênero para provocar reflexões, identificar o papel do cinema na sociedade, seja no seu princípio ou agora, além de projetar a importância da sétima arte nos nossos próximos momentos históricos.
 
"A arte do guerreiro lúcido" traz, também, trechos de relevantes crônicas escritas por Octavio, assim como oferece aos leitores algumas das suas principais análises de filmes.
 
Em um trecho particularmente interessante que eu gostaria de ressaltar, o autor proporciona ainda um roteiro para introduzir o cinema na vida das crianças.
 
Por fim, concluo que esse livro mistura textos diversos (romance, crônica, crítica) de maneira muito criativa, desacomodando (ou instigando) o seu público, mostrando, sobretudo, o quanto Octavio Caruso é lúcido de verdade.

sábado, 22 de novembro de 2025

"Poeamo-me: poemas de amor e desamor próprio", de Paula Taitelbaum

"Poeamo-me" é uma das propostas poéticas mais impressionantes (e certamente a mais completa) que já tive a oportunidade de conhecer. Isso porque o kit que acompanha o livro escrito e ilustrado por Paula Taitelbaum inclui instruções para a realização de dinâmicas de grupo a partir da leitura dos poemas, assim como os materiais necessários para colocá-las em prática: uma linda "Sacola para Poeamar", um rolo de barbante vermelho, um bloco de folhas brancas e uma cola.

Lançado pela Editora Piu em 2024, "Poeamo-me: poemas de amor e desamor próprio" é uma coletânea de poemas já publicados no primeiro livro da escritora, "Eu Versos Eu", repaginados e complementados por instigantes ilustrações em vermelho. Os textos são, em sua maioria, curtos, fáceis de entender, porém criativos e provocantes, características que realmente os tornam super indicados para o trabalho com jovens.

E, como se isso fosse pouco, além do formato físico, a obra está disponível nos suportes digital e audiolivro (este de forma gratuita nas plataformas de áudio).

Portanto, "Poeamo-me" é um projeto brilhante, com poemas muito bem selecionados e planejado com carinho em todos os seus detalhes, configurando-se numa imersão poética inigualável.

domingo, 16 de novembro de 2025

"Destino leia-se sentido", de Gabriela Marcondes

Em "Destino leia-se sentido", Gabriela Marcondes apresenta uma criação literária que alia inovação e tradição, revelando-se como uma das vozes mais instigantes da literatura brasileira contemporânea. Sua produção é marcada por um jogo lúdico com a linguagem, no qual frases de outros autores são reinventadas, fragmentadas e ressignificadas, enquanto palavras são embaralhadas até darem origem a novos termos, em um gesto de brilhantismo surpreendente.

Gabriela dá um tom acessível e estimulante àquilo que poderia soar excessivamente experimental, tendo em vista que seus versos não intimidam, convidando o leitor a participar do jogo, explorando significados múltiplos a partir de vocábulos simples, trabalhados com engenho e delicadeza. 

A multiplicidade da autora (médica, poeta, artista visual e mestre em musicologia) transparece em cada página, pois sua criação é atravessada por uma sensibilidade que dialoga com diferentes áreas do conhecimento, resultando em uma escrita que é, simultaneamente, racional e sensorial.

O título já anuncia a proposta: "Destino leia-se sentido", porque, se misturarmos as letras que constituem a palavra “destino”, obteremos “sentido” — gesto que revela não apenas a busca por novos vocábulos, mas, sobretudo, de significados, prenunciando aquilo que acontece no decorrer das páginas deste livro.

Mais do que reafirmar a potência da palavra como matéria viva, a obra desafia quem a lê a repensar os caminhos da poesia atual. Pela ousadia formal e pela clareza de execução, Gabriela Marcondes se consolida como uma das escritoras mais inventivas de sua geração.

domingo, 9 de novembro de 2025

"Café & Foco", de Mauro José Santin




- Título: "Café e Foco: Crônicas Astro Lógicas"
- Autor: Mauro José Santin
- Editora: Edelbra/AEL (RS)
- Ano de lançamento: 2018
- Nº. de páginas: 248


"Café e Foco: Crônicas Astro Lógicas", de Mauro José Santin, é fruto de um percurso que começou em 2010, com o lançamento do livro "Educação para todas as vidas: um novo olhar para a vida, um rumo novo para a educação", e ganhou corpo no blog "Café e Foco", criado em 18 de janeiro de 2011. Esse espaço virtual, ainda ativo, tornou-se um repositório de reflexões em forma de versos e crônicas, que em 2018 resultaram neste livro.

A proposta já está anunciada no título: C – A – F – E, isto é, Ciência, Arte, Filosofia e Espiritualidade, com a Astrologia também presente como chave de leitura. O estilo de Mauro é único, pois seus textos não apenas transmitem ideias, mas são cuidadosamente estruturados para que a forma dos versos dialogue com o conteúdo, criando uma experiência estética e reflexiva.

Cada crônica lírica transcrita neste volume é um convite a pensar o instante vivido, seja quais forem os aspectos da vida humana abordados, sempre com um olhar atento ao tempo histórico em que foi escrita. Por isso, não é uma obra para ser lida de uma vez só; ao contrário, pede calma, digestão lenta, como um café forte que se saboreia aos poucos. Ler um texto por dia, assim, é uma maneira de respeitar o ritmo que o próprio autor defende, já que Mauro condena os excessos da pressa e da velocidade que marcam a vida contemporânea.

Um exemplo marcante é a publicação “Interdependência da Reconstrução”, de 22 de dezembro de 2015, em que o autor escreve: “A Cada Instante Sagrado, ao passar de cada dia AoBemSoado, fica mais evidente a Interdependência entre tudo e todos neste nosso Planeta super-habitado. Torna-se, assim, impossível olhar para o Planeta, que é apenas uma das muitas Moradas no Universo, sem usar o Coração como Luneta, sem perceber que é Único o Verso…”. Nesse texto, Mauro denuncia a exploração insaciável da Terra, a objetificação dos animais e até das próprias pessoas, chamando à reverência e à gratidão. Ao mesmo tempo, recorre à linguagem astrológica para propor uma transformação: Plutão, “o Grande Detetive”, paira sobre Capricórnio e nos pede “Conversão em lugar de Diversão, Justa Ação em lugar do Autoengano da Corrupção”. É um chamado à consciência, à autogestão e à mudança de postura diante da vida e do planeta.

Por conta disso, "Café e Foco: Crônicas Astro Lógicas" não é apenas uma coletânea de textos, mas um exercício de presença e de espiritualidade aplicada ao cotidiano. Mauro José Santin nos convida a olhar para o mundo com o “Coração como Luneta”, a perceber a interdependência entre tudo e todos e a mudar nossa relação com o tempo, com a Terra e conosco mesmos. É uma obra que pede calma, atenção e abertura — um café que aquece, desperta e inspira.

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

"Neve negra", de Santiago Nazarian

Em "Neve negra", Santiago Nazarian narra a história de Bruno Schwarz, um artista plástico bem-sucedido que retorna à antiga casa da família, localizada em uma pequena cidade do interior de Santa Catarina, justamente em um dia de neve atípico. Desde o início, não é apenas o clima que se mostra fora do comum, pois o local tão (re)conhecido pelo pintor está enchendo a sua cabeça de perguntas.

O romance se constrói como um verdadeiro exercício de terror psicológico, em que paranoias, alucinações e dramas concretos se entrelaçam. Nazarian mistura lenda, mistério, isolamento, solidão e crise de identidade, ao mesmo tempo em que contrapõe o sucesso e o fracasso do protagonista. O resultado é uma narrativa que alterna entre suspense, poesia, humor e surrealismo, oscilando constantemente entre presente e passado, devaneio e realidade.  

Mais uma vez, surge a figura de Thomas Schimidt, alter ego literário do autor, que interage com as suas criaturas e oferece um divertido ingrediente ao livro.

Embora não seja a narrativa mais instigante que já li, "Neve negra" se revela interessante e em nenhum momento cansativa. Ao final da leitura, permanece a dúvida essencial: seriam os acontecimentos apenas alegorias criadas por Santiago, fruto da mente perturbada de Bruno Schwarz, ou experiências efetivamente vividas pelo personagem? Essa ambiguidade é o que sustenta a força do romance, deixando no leitor a inquietação própria do melhor terror psicológico.

domingo, 2 de novembro de 2025

"A viúva Simões", de Júlia Lopes de Almeida

O romance "A viúva Simões", de Júlia Lopes de Almeida, traz como personagem principal Ernestina, mulher madura e de beleza singular, cujo marido falecera recentemente, deixando-lhe muitas posses e a filha Sara, moça peculiar e fisicamente parecida com o pai.

No decorrer da narrativa, Ernestina descobre que Luciano, por quem fora apaixonada na juventude, estava retornando ao Brasil após longa estadia na Europa. E esse reencontro provoca o ressurgimento de antigos sentimentos em ambos, assim como reabre feridas mal curadas. Mas, para dificultar uma segunda chance entre os dois, intromete-se Sara, que zela demais pela memória do pai e pelo período de luto devido pela mãe.

Pode-se afirmar, então, que a história é interessante e convida à leitura, apresentando doses certas de suspense, romance, drama e, até mesmo, de um certo terror sobrenatural. Além disso, o terço final da obra é bastante surpreendente, muito embora possa parecer, de certa forma, arrastado e forçado demais, quase apelativo.

Contudo, não há nada que desabone esse tesouro da Literatura Brasileira, publicado no final do século XIX, pois, em suma, "A viúva Simões" revela um enredo competente, planejado e estudado, que, mesmo sendo antigo, ainda proporciona um especial deleite aos seus leitores.


sábado, 25 de outubro de 2025

"É tarde para saber", de Josué Guimarães

Li "É tarde para saber" pela primeira vez na escola, ainda durante o 1º grau (atual Ensino Fundamental). Lembrava-me de que era um romance trágico e de que fora um dos poucos livros que li com satisfação naquele período.

Hoje, relendo a obra com um novo olhar, achei-a boa, mas nada fantástica. Além disso, excetuando-se o risco iminente de um novo governo fascista de extrema-direita, percebi-a bastante datada, retratando especificamente a realidade da época em todos os seus aspectos.

Para quem não sabe, esse título narra a história de Mariana, menina rica moradora de Copacabana, e Cássio, menino pobre e enigmático. Ambos mantêm um relacionamento quase secreto.

Ao longo da narrativa, Josué Guimarães dá “tapas de luva” no regime militar, que era o máximo que poderia fazer naquela conjuntura política brasileira.

Enfim, "É tarde para saber" é um livro importante para a nossa literatura, principalmente na ocasião em que foi lançado, e que hoje nos diz muito sobre um momento histórico que parte da população do país prefere ignorar ou romantizar.