sábado, 17 de fevereiro de 2024

"O Silêncio", de Gaspar Hernàndez

Um radialista busca auxiliar na cura do câncer que acometeu a sua amiga japonesa Umiko por meio do som da sua voz. Ela crê que esse processo pode levá-la a uma remissão espontânea, pois, na qualidade de praticante de meditação, tem fé no poder das visualizações e, no caso, das ondas sonoras produzidas pela vocalização do amigo.

Então, durante uma noite inteira, Umiko dorme em sua cama, completamente nua, induzida por poderosos soníferos, enquanto o radialista fala sem parar. E o livro que lemos trata-se de tudo aquilo que o homem diz a ela.

Uma história bem diferente, bem contada e bem cativante, na qual o estilo narrativo de Hernàndez permite que o leitor entre realmente nas experiências dos personagens e enxergue tudo o que veem.

sábado, 3 de fevereiro de 2024

"Deus o abençoe, Dr. Kevorkian", de Kurt Vonnegut

Neste breve livro, Vonnegut torna-se um "repórter do além" e entrevista pessoas que já faleceram, desde ilustres desconhecidos até as personalidades mais consagradas, como Newton, Hitler e Shakespeare.

A obra é deliciosamente crítica e engraçada, brindando o leitor com um texto acessível e super inteligente.

sábado, 20 de janeiro de 2024

"Pornofantasma", de Santiago Nazarian

"Pornofantasma" é um livro de contos fantástico! Nele, Santiago Nazarian brinda os leitores com tudo aquilo que há de melhor na boa literatura. Há o terror, o suspense, a fantasia, o conto de fadas.

A narrativa de Nazarian é uma delícia! E, também, repleta de excelentes referências culturais. O autor consegue aterrorizar, divertir, fazer pensar, instigar a leitura. Mostra, de diversas formas, que é mestre naquilo que se propõe a fazer.

Adorei!

sábado, 6 de janeiro de 2024

"Futilidade ou O naufrágio do Titan", de Morgan Robertson

Esta é uma das obras mais espantosas que se pode ler, isso porque a breve narrativa escrita por Morgan Robertson conta, quinze anos antes, o naufrágio do Titanic.

Em "Futilidade ou O naufrágio do Titan", o autor fala sobre o maior transatlântico já criado, que, em sua primeira viagem, atinge um iceberg e afunda, matando a maior parte dos seus passageiros. No livro, a tragédia é causada pelo excesso de velocidade, a pequena quantidade de botes disponíveis, o despreparo e a negligência da tripulação, bem como a cobiça dos acionistas. 

Coincidência ou premonição? Não se sabe. O que se pode afirmar é que foi lamentável aos homens da época não terem dado atenção à ficção de Robertson, o qual faleceu três anos após a sua fantasia ter se tornado realidade.

Assustador!

sábado, 23 de dezembro de 2023

"68 (meia oito)", de Flávio Braga & Luis Daltro

A talentosa dupla que elaborou "68 (meia oito)" traz aos leitores um romance diferente, narrado de uma maneira inusitada.

Aqui, o ano de 1968 é contado sob o prisma de quatro personagens principais: o advogado Roberto Medeiros Vares; o músico Silvano Dantas de Jesus; a prostituta Rosa; e a poetisa Ava Macedo.

A obra vai alternando o relato de um e outro, construindo, dessa forma, um interessante panorama da época, sem preconceitos nem maquiagens.

Portanto, "68 (meia oito)" é uma experiência de leitura que entretém, ensina e testa o leitor, sendo recomendável especialmente àqueles que se orgulham de suas dúvidas, e não de suas certezas.

sábado, 9 de dezembro de 2023

"Noite em Pigalle", de Simon Lane

Em sua ficha catalográfica, "Noite em Pigalle" é classificado como "ficção erótica"; mas eu não reduziria esse livro a isso. Romances eróticos costumeiramente se caracterizam por narrativas comuns, banais, que servem apenas como um pretexto romântico para encontros em que os protagonistas ponham em prática a sua paixão, o seu desejo. E essa obra é muito mais do que isso!

Simon Lane mostrou-se um genial escritor! "Noite em Pigalle", por exemplo, apresenta três narrativas intercaladas: o narrador principal do livro nos conta sobre Fear, um escritor interessante, mas falido; Fear nos traz trechos de seu romance erótico, também intitulado "Noite em Pigalle", que está em construção; e Madame Jaffré, a sua gerente de banco, nos confidencia, aos poucos, seus interessantes segredos.

Em "Noite em Pigalle", de Simon Lane, não de Fear, Madame Jaffré, ao saber da delicada situação financeira deste, aconselha-o a escrever algo mais comercial, como um romance erótico, sem a menor pretensão de que ele a levasse a sério.

Portanto, por sua inventiva construção, por sua competente e rica narrativa, essa obra do autor inglês me foi uma espetacular surpresa.

sábado, 25 de novembro de 2023

"Chorinho Brejeiro", de Dalton Trevisan

Em seus contos, Dalton Trevisan elabora narrativas baseadas em diálogos. Essa característica traz rapidez à leitura, além de temperar o texto com informalidade e, consequentemente, fidedignidade.

Como temáticas principais, as histórias abordam traições, relacionamentos amorosos, atração física, enfim, relações interpessoais cotidianas que revelam o comportamento humano.

Quanto aos personagens, quase sempre de mesmo nome, quase sempre nas mesmas situações, não se sabe se João, Maria, Rosinha, o Sargento são as mesmas figuras em todos os contos ou se Trevisan os adotou como nomes/perfis genéricos, indivíduos comuns e (in)visíveis ao longo da História e do território brasileiros.

Pois, pegando esse exemplo, as construções do escritor paranaense suscitam muitas dúvidas, fomentadas pelos fragmentos de contextos e os verossímeis diálogos que, em conversações, seriam pontuados pelo não dito, pelo não verbal, mas que, apenas com o auxílio da grafia, por vezes levam o leitor a se perder nos espaços em branco.

Enfim, mais um simples livro complexo, repleto de situações triviais que atingem o fundo da sórdida mente humana.