sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

"Ironias do tempo", de Luis Fernando Verissimo (organizado por Isabel e Adriana Falcão)

O livro "Ironias do tempo" reúne setenta e sete crônicas escritas por Luis Fernando Verissimo, todas publicadas durante os últimos vinte anos (de 1998 a 2018). Os textos, selecionados por Isabel e Adriana Falcão (mãe e filha, respectivamente), retratam, como está sugerido no título, as ironias que o tempo constrói após a passagem de alguns anos, décadas, séculos.

E essa característica é riquíssima na obra de Verissimo. Como cronista, ele não apenas nos fornece um instantâneo do momento que deseja registrar, mas, como um bom fotógrafo faria, também oferece ao público uma interpretação transcendental dos fatos relatados e lapidados por ele. Pode-se dizer, até, que esse é o fator que permite as ironias, as analogias referidas anteriormente.

O autor sempre proporciona aos leitores crônicas mágicas (por encantarem), atraentes (por convidarem à leitura), engraçadas (pelas situações hilárias que cria, na busca pelas melhores comparações - explícitas ou não), inteligentes (por convocarem à reflexão).

Assim, para quem tem interesse por fazer uma leitura agradável, rica e que retoma um pouco da nossa história recente, "Ironias do tempo" é uma dica certeira.

sábado, 9 de fevereiro de 2019

"A sutil arte de ligar o foda-se: uma estratégia inusitada para uma vida melhor", de Mark Manson

O presente livro de Mark Manson pode ser considerado uma obra de autoajuda. Porém, desde o título, não é de maneira alguma tradicional. Pois nele o autor busca liberar os leitores dos fardos que a sociedade moderna impõe a todos nós: seja excelente, seja especial, seja feliz, seja eterno, faça sucesso, dentre outros. E os nomes dos capítulos dão uma noção da argumentação oferecida por Mark: "Nem tente", "A felicidade é um problema", "Você não é especial", "O valor do sofrimento", "Você está sempre fazendo escolhas", "Você está errado em tudo (eu também)", "Fracassar é seguir em frente", "A importância de dizer não", "... E aí você morre".

Mark Manson conversa de forma direta com o seu público, sem medo de dizer, sem medo de palavras fortes, sem medo de impactar, sem medo de rir (inclusive da desgraça). Ele acerta o ponto e trata sobre tópicos que afetam a vida de cada indivíduo, assim como discorre a respeito deles feito um verdadeiro amigo. E é por isso que esse livro não é só mais um dentre tantos.

domingo, 27 de janeiro de 2019

"Ben-Hur: uma história dos tempos de Cristo", de Carol Wallace (baseado no romance de Lew Wallace)

Este livro não se trata do original, publicado em 1880 e escrito por Lew Wallace. É uma adaptação feita por Carol Wallace, trineta do autor supracitado, que justifica assim o que motivou essa tarefa:

"Como escritora, eu pude ver o potencial que existia no livro tão amado do meu trisavô. Ele poderia ser atualizado com cortes, reposicionamento de certas passagens, mais profundidade nas personagens femininas, ritmo mais rápido e linguagem contemporânea."

Desse modo, com o maior respeito ao texto original, a autora tornou esse interminável título em algo mais atraente ao público de hoje. E isso é muito importante, pois a história protagonizada por Judah Ben-Hur não faz referência apenas à fé cristã. Ela retrata a injustiça, o azar, a vingança, o amor, a amizade, a humildade, a prepotência, a dissimulação, a lealdade, a resignação, a conformação, a revolta, a doação, dentre vários outros temas; enfim, assuntos eternos quando se alude ao ser humano.

E essa magnífica obra, magistralmente esculpida, uma amostra fiel da humanidade, tem, na presente versão, a honra de ter servido como fonte para o mais recente filme inspirado em "Ben-Hur: A Tale of the Christ", lançado em 2016.

Por conta de tudo isso, cabe a mim afirmar que é um inestimável ganho de tempo a prazerosa degustação de cada palavra contida no volume em questão.

domingo, 13 de janeiro de 2019

"POEMAS e CARTAS A UM JOVEM POETA", de Rainer Maria Rilke

Maravilhoso esse livro que apresenta textos de Rilke e que fala sobre o autor.

Os poemas de Rilke soam ainda atuais, apesar da idade, e retratam a sua visão sobre a vida, a morte, as estações do ano (representando as fases da vida também), o misticismo.

Todos os poemas apresentam, numa seção especial do livro, comentários dos seus organizadores e tradutores Geir Campos e Fernando Jorge, o que enriquece deveras a experiência da leitura.

Os textos sobre o autor trazem ao leitor uma boa noção de quem foi e do que pensava Rainer Maria Rilke.

Mas o que mais me fascinou mesmo foram as cartas que ele escreveu para o jovem poeta (do título) Franz Xaver Kappus, as quais demonstram uma admirável visão da existência e a respeito do que nos acontece ao longo da nossa caminhada.

Realmente, uma leitura agradável e construtiva!

domingo, 30 de dezembro de 2018

"Expresso da meia-noite", de Billy Hayes com William Hoffer

Em "Expresso da meia-noite", William Hayes narra os fatos que envolveram a sua prisão na Turquia por porte de haxixe, bem com a sua subsequente fuga cinco anos depois.

Ele conta tudo o que passou durante aquele período, retratando a atmosfera do presídio e dos outros locais onde esteve, além de descrever as pessoas que mais lhe marcaram.

É, certamente, uma das melhores obras que já li, por apresentar uma história surpreendente e quase inacreditável, escrita de maneira empolgante e comovente.

domingo, 16 de dezembro de 2018

"A Guerra dos Mundos", de H. G. Wells

O livro "A Guerra dos Mundos" lembra pouco as suas adaptações cinematográficas, seja por cada versão retratar a invasão alienígena dentro da sua atualidade, seja pela infinidade de detalhes sinistros descritos no texto de Wells, permitindo uma verdadeira viagem por parte dos leitores.

A obra surpreende por vários aspectos: foi publicada pela primeira vez em 1897(!!!); está a séculos a frente de seu tempo; transmite uma sincera sensação de realismo; filosofa a respeito da fragilidade do homem, apesar do seu sentimento de onipotência.

Enfim, o livro "A Guerra dos Mundos" está muito além dos filmes homônimos, tanto pela profundidade da escrita de H. G. Wells quanto pela intenção da produção.

* Degustação:

"[...] Eles costumavam simplesmente dar no pé rumo ao trabalho... já vi centenas deles, de lanche na mão, correndo loucos e limpinhos para pegar seus trenzinhos com passe anual, morrendo de medo de que seriam demitidos se os perdessem; trabalhando em empregos que temiam fazer o esforço de compreender; dando no pé de volta com receio de que não chegariam a tempo para o jantar; não tirando os pés de casa depois da janta pelo terror dos becos e dormindo com as mulheres com quem estavam casados não porque as quisessem, mas porque elas tinham um pouquinho de dinheiro que prometia segurança em sua mísera correria pelo mundo. Vidas cobertas por apólices e um tantinho investido pelo medo de acidentes. E aos domingos... o medo do além. Como se o inferno fosse destinado aos coelhos! Bem, para esses os marcianos vão ser uma dádiva divina. [...]"

domingo, 2 de dezembro de 2018

"Madame Bovary", de Gustave Flaubert

Decidi realizar a leitura dessa obra por ter lido anteriormente algo sobre o seu autor, bem como por ter recebido essa recomendação da minha orientadora da dissertação de mestrado, que solicitou com certa veemência que eu o fizesse algum dia.

Até a metade do livro, não entendia o motivo para tanto alarde. Parecia-me apenas uma espécie de obra de transição, contrária ao Romantismo, que colocava a personagem Emma, a tal da Madame Bovary, como um tipo de Don Quixote (nesse caso, diferentemente da figura criada por Cervantes, por ter lido muitos e muitos romances românticos, ela frustrava-se com a realidade, sempre à espera do grande amor de sua vida, do seu homem perfeito).

Porém, da metade para o fim, o livro começa a ter mais graça. Após uma sucessão de fatos, percebe-se que, na realidade retratada por Flaubert, não há mocinhos nem vilões. Todos os personagens são egocêntricos e vítimas das circunstâncias.

Dessa maneira, depois de conhecer todo o texto de "Madame Bovary", conclui-se que é um título grandioso, cujas temáticas principais são a traição, o oportunismo e, comandando tudo isso, a brutalidade e a fugacidade do ser humano.