- Título: "8 passos para a reconstrução da esperança"
- Autor: Octavio Caruso
- Editora: Estrada de Papel (PR)
- Ano de lançamento: 2025
- Nº. de páginas: 74
No livro “8 passos para a reconstrução da esperança”, o escritor, crítico de cinema, ator, produtor, roteirista e cineasta independente Octavio Caruso compara o panorama social que se descortinava durante a sua infância com o cenário distópico tristemente observável nos dias atuais. No decorrer das páginas, o autor carioca ilustra, com fortes argumentos, como os brasileiros estão prosseguindo ladeira abaixo enquanto seres humanos de valor, estando a sua vergonhosa maioria perdida, despencando sem perder a pose e o nariz empinado.
Por outro lado, apesar de escancarar a desfavorável realidade com elogiável lucidez, Octavio busca fazer a sua parte (como já vem realizando há muito tempo, aliás, por meio de seus espetaculares trabalhos), listando os oito passos que, segundo ele, permitiriam aos poucos cidadãos fora da curva voltarem a ter alguma esperança na humanidade.
O primeiro passo, “O resgate da gentileza”, aborda a maneira de agir grosseira, vil e egocêntrica testemunhada em quase todos os indivíduos na atualidade. Para o escritor, se as pessoas voltassem a ser gentis, tivessem mais empatia e pensassem mais no bem comum, e não só em satisfazer as necessidades fúteis e instantâneas dos seus sujos umbigos, teríamos uma sociedade visivelmente melhor.
O segundo passo, “A vergonha de ser burro”, trata a respeito de um aspecto que já percebo há algum tempo como professor: os estudantes não sentem mais vergonha de terem um mau desempenho escolar. Tirar uma nota ruim, o que antes era um motivo de desespero, hoje é algo recebido com a mais completa indiferença. Então, não saber é uma situação que não incomoda mais os seres humanos. O importante, para a massa, é arranjar formas de conseguir dinheiro com pouco esforço. Só é relevante aquilo que a levar a isso.
O terceiro passo, “Conservar é amar”, discorre sobre a cada vez mais ameaçada prática do colecionismo, capítulo que mexeu muito comigo. Pois, como sempre gostei demais de música, cinema e literatura, desde criança adquiro e conservo, com o maior zelo possível, CDs, DVDs, livros e gibis. E sinto-me desesperado com a notável “ditadura” virtual. Agora, só vale aquilo que pode ser acessado pela internet, tendo em vista que é o que a maior parte dos indivíduos consome. Sendo assim, os poucos adeptos do verdadeiro apreço à arte e à cultura que ainda não desistiram das mídias físicas estão a cada dia mais angustiados com o cerco que vem se fechando. Gradativamente, está ficando mais complicado de encontrar títulos em CD, LP e DVD, sobretudo de achar aparelhos de qualidade que rodem esses discos. E, concordando com Octavio, digo: a paixão pela mídia física, pelo garimpo cultural, é proporcional ao respeito que se tem pelo autoaprimoramento intelectual.
O quarto passo, “Ilumine o caminho”, também me sensibilizou, porque tece analogias com o papel do docente, que quase sempre é exaustivo, frustrante e infrutífero, mas que, nas raras ocasiões em que o plantio dá sinal de vida, provoca sensações inigualáveis. Aqui, Caruso afirma que não se pode mudar a mentalidade de alguém, restando somente iluminar o seu caminho, torcendo para que os demais acolham a oportunidade. (Porém, convenhamos que é uma tarefa hercúlea, visto que o único trajeto luminoso valorizado pela imensa maioria é a tela dos seus smartphones – as únicas peças estimadas em suas medíocres existências, sem as quais morreriam.)
Por sua vez, os outros quatro passos sugeridos pelo autor desta valorosa obra não são menos importantes do que os supracitados e contêm uma abundante dose de joias em suas linhas. Contudo, não tecerei comentários sobre todos eles, uma vez que o presente texto deseja convidar os leitores para que tenham a mesma rica experiência que eu tive ao devorar “8 passos para a reconstrução da esperança”, e não resumir o livro inteiro, tendo em vista que isso acomodaria o público e, consequentemente, iria contra ao que Octavio Caruso sustentou neste seu lançamento.
Resta-me, assim, encerrar esta análise (bem menos aprofundada do que as brilhantemente executadas pelo escritor da obra em questão) com as minhas considerações finais. Concluo, afirmando que este foi um dos melhores livros que já li em toda a minha vasta experiência como leitor, pois não só encontrei em suas páginas, quase em sua totalidade, ideias com as quais me identifico, como também desfrutei de um título escrito com paixão, primor, verdade e as ponderações feitas por alguém que sabe realmente do que está falando. Octavio mostrou-se um sensível observador daquilo e daqueles que o cercam, assim como, há tempos, revela-se um verdadeiro protagonista da nossa sociedade, a quem devemos maior atenção. E espero, sinceramente, que isso aconteça.