domingo, 25 de fevereiro de 2018

"Viva como se estivesse de partida", de Rafael Henzel

Rafael Henzel é o único jornalista a sobreviver ao voo LaMia 2933, na tragédia ocorrida no fim de 2016.

Logo que soube da publicação deste livro, senti vontade de lê-lo. Por um lado, para tentar entender quais são as percepções, os sentimentos e as emoções que um sobrevivente de algo tão terrível tem sobre o fato. Por outro, para ver o que alguém com essa triste bagagem tem a dizer a respeito da vida.

Pode-se afirmar que, na obra, assim como eu esperava, o autor relata a experiência tida durante o acidente aéreo com a equipe de futebol da Chapecoense e discorre sobre o que ele espera da sua existência daqui para a frente. Além disso, descreve quem é a pessoa Rafael Henzel, cujo modo de ser, aliás, lembrou-me bastante do meu.

Então, é uma leitura que nos traz um ponto de vista diferente, pessoal e humano em relação a esse desgraçado acontecimento e uma visão renovada perante o ato de viver, sem as pretensões de um típico livro de autoajuda.

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Enquanto erechinense, acrescento o quanto o acidente nos comoveu, uma vez que o município de Chapecó é próximo de nossa cidade e a Chapecoense tem sido parceira do nosso Ypiranga, time este que acompanhou a ascensão do seu colega catarinense à elite do futebol, desde a oportunidade em que ambos estiveram na série D quando essa fantástica caminhada começou (no ano de 2009), bem como realizando constantemente amistosos nas duas cidades a partir de então. E, é claro, não se pode esquecer que, dentre as vítimas dessa fatalidade, estava Renan Agnolin, jovem natural de Erechim e colega de emissora de Rafael Henzel, escritor dessa obra.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

"007 contra o satânico Dr. No", de Ian Fleming

Tendo assistido a todos os filmes da franquia "James Bond, 007" sempre com muita curiosidade e interesse, decidi realizar a leitura de pelo menos um dos livros de Ian Fleming, cujas histórias inspiraram essas obras cinematográficas. Então, adquiri (na internet, tamanha a dificuldade de se encontrar) o título "007 contra o satânico Dr. No", em virtude de ter sido o primeiro a ser levado ao cinema.

Sendo assim, após devorá-lo, concluí que o livro é mais crítico e apresenta personagens mais humanos do que o filme. Além disso, desenvolve tipos diferentes de heroísmo e de sedução daqueles observados no cinema, tendo em vista que revela um Bond mais frágil e crível.

Tanto no filme quanto no livro, há fatos e personagens diversos um do outro. Pode-se dizer que isso ocorre em função das possibilidades cinematográficas da época, de diferentes formas de narrativa e de prováveis referências a outras obras do autor.

Por sua vez, mais dinâmico do que o livro, o filme criou uma fórmula constantemente repetida nas suas sequências. Isso se deve ao fato dos roteiristas terem se utilizado do texto do livro com brilhantismo - dentre outros fatores determinantes, como direção, seleção de atores, fotografia, perfeitamente executados, do meu ponto de vista.

Portanto, concluo que os dois, livro e filme, são impecáveis, cada um dentro da sua linguagem. É claro que os livros geralmente são superiores aos filmes que inspiram. Mas, ao comparar esse exemplar com o referido filme, entende-se porque este fez (e faz) um tremendo sucesso e a franquia tem sido cuidada e continuada com redobrado zelo.

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Curiosidades:

- Honey Rider, a primeira Bond Girl do cinema, interpretada no filme de 1962 pela magnífica Ursula Andress, surge belíssima no livro, porém mais rústica do que a atriz supracitada. Também, possui uma história de vida bem mais triste do que a relatada no cinema e o seu nariz fora quebrado por um estuprador.

- No livro, James Bond enfrenta uma lula gigante, cena que só poderia ter sido realizada de maneira tosca se fosse para o cinema naquela época - um acerto por parte dos produtores, apesar dessa estranha luta aparecer em destaque no trabalho de Fleming.

- As referências aos EUA estão mais presentes no filme, como seria de se esperar - inclusive são os norte-americanos que "resgatam" Bond e Honey Rider no final do filme.

- Já o livro traz ao leitor críticas políticas que passaram bem longe das "telonas" de todo o mundo.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

"Crime e castigo", de Fiódor Dostoiévski

Obra enorme em todos os sentidos, "Crime e castigo" é uma narrativa pesada, em virtude da pobreza, precariedade, sujeira e vilania mostradas. Contudo, há momentos de humanidade, amor, solidariedade e amizade dentro da história. E isso tudo torna o livro muito real, com personagens críveis.

Em várias ocasiões, as descrições de pessoas e situações me lembraram daquelas que podem ser observadas no magnífico livro gaúcho "Os ratos", de Dyonelio Machado, posterior, obviamente, a "Crime e castigo".

Porém, em meio a todo esse brilhantismo de Dostoiévski, o final da história me pareceu um pouco forçado, contradizendo o teor do restante da narrativa. Talvez tenha acontecido algo similar ao que sucedeu com José Mojica Marins, em seu filme "Esta noite encarnarei no teu cadáver", quando teve de elaborar um final mais cristão, mais politicamente correto, para que a referida obra cinematográfica passasse pela censura. Por sua vez, acredito eu, o escritor russo criou uma espécie de epílogo feliz, de modo a aumentar a aceitação do público do século XIX.

De qualquer forma, é uma leitura obrigatória.