domingo, 29 de dezembro de 2019

"As alegres matronas de Windsor", de William Shakespeare

A peça em questão é uma comédia que Shakespeare escreveu a pedido da rainha Elizabeth.

Tratando de temas como os ciúmes, as traições, os jogos de interesses, "As alegres matronas de Windsor" soa moderna, inclusive por propor personagens femininas fortes e cheias de iniciativa.

Muito engraçada, é uma obra curta que merece ser degustada com carinho e atenção.

domingo, 15 de dezembro de 2019

"Onde está Teresa?", de Zibia Gasparetto

"Onde está Teresa?" é uma trama policial que envolve sequestro, tráfico de drogas, traição, acerto de contas e falsidade ideológica.

O livro apresenta uma história cativante, narrada de forma simples e inteligente, de modo a proporcionar ao leitor várias lições de vida, sem deixar de lado a emoção e o suspense.

Sendo este o primeiro título que leio da autora, sem interesse franco no espiritismo, posso afirmar que "Onde está Teresa?" entretém e ensina muito às pessoas, inclusive a respeito da crença espiritual de Zibia, o que permite reflexões produtivas a indivíduos de mente aberta e desprovidos de preconceito religioso.

domingo, 1 de dezembro de 2019

"Dicionário Filosófico", de Voltaire

Nesta grande obra, dividida em temáticas, Voltaire discorre (e propõe reflexões) sobre inúmeros dos diversos assuntos pertinentes ao século XVIII - e ao século XXI, por que não?

O texto do referido "Dicionário Filosófico" é notavelmente moderno e Voltaire soa como um cronista de sua época, registrando no tempo, para que não se perdesse, todo o pensamento, as dúvidas, as certezas e as angústias daquele momento. O autor francês assemelha-se a William Shakespeare, Machado de Assis, dentre outros escritores que produziram livros para sempre, pois mantêm-se relevantes e atuais, uma vez que captaram a essência do ser humano, independente de qualquer determinante que o defina e delimite.

Por isso, "Dicionário Filosófico" é um título bem interessante, com argumentos inteligentes, acessíveis, humanos e sensíveis, funcionando como um instrumento de aprimoramento intelectual, emocional e espiritual do leitor.

***

"[...] Aqueles que dizem que há verdades que devem ser escondidas ao povo não podem se pôr em alarme; o povo não lê; trabalha seis dias por semana e, no sétimo, vai à taberna. [...]" (Prefácio - 1769)

"[...] não é a desigualdade que é um mal real, é a dependência. Importa muito pouco que tal homem seja chamado Sua Alteza e outro Sua Santidade; duro, porém, é servir a um ou a outro." (Igualdade)

"Todo homem nasce com forte inclinação para a dominação, a riqueza e os prazeres e com uma acentuada queda para a preguiça [...]" (Igualdade)

domingo, 17 de novembro de 2019

"O homem de lata", de Sarah Winman

"O homem de lata" é um livro que não conseguiu me cativar. Talvez por não ter ido ao encontro das minhas expectativas. Pelo contrário, foi muito de encontro àquilo que esperava dele!

A autora cita grandes artistas e localidades europeias para tornar a narrativa mais charmosa. Inclusive utilizou o recurso de elaborar um estilo que vai e vem no tempo (o que dá um nó na cabeça de um leitor mais desatento). Tudo isso embalado por um tom melancólico, saudosista.

Posso afirmar que a obra possui personagens que dizem, dizem, dizem, sem dizer realmente nada. É uma história solta no tempo, envolvendo o verdadeiro amor, a verdadeira amizade, a verdadeira contemplação, além de dramas, alegrias, escolhas, obrigações, preconceito, aceitação, perdas e ganhos.

Observando os temas que foram acima mencionados, até parece um título interessante. Porém, sinto que a escritora pretendia bem mais do que obteve.

domingo, 3 de novembro de 2019

"Da mente ao impulso", de Kurpag M.

- Título: “Da mente ao impulso”
- Autor: Kurpag M.
- Editora: Deviant (RS)
- Ano de lançamento: 2017
- Nº. de páginas: 207


A obra “Da mente ao impulso”, elaborada pelo misterioso escritor Kurpag, contém quarenta e seis contos de horror. Dentre eles, destaco: “Ceia natalina”; o brilhante “Narrativa à queima-roupa”; “Carta amassada”; “Paixão, conquista e desilusão”; “Unificação gêmea”; o sensível e belo “Lágrima na capela”; o filosófico “O coveiro idealista”; “Justiça”; e o genial “Casa própria”.

Em todos os títulos, o autor narra atos brutais como se estivesse contando acontecimentos triviais, transformando a pressão exercida sobre cada um e o estilo de vida da humanidade em monstros a serem temidos. No universo de Kurpag, toda e qualquer pessoa é capaz de cometer atrocidades, dependendo de seus estados mental e emocional.

“Da mente ao impulso” revela personagens com doses cavalares de frustração. Sendo assim, aos poucos, a mente prega peças nesses indivíduos, levando-os a uma realidade paralela. E é aí que surge o horror proposto no livro.

A linguagem das histórias é bastante poética, o que permite que a narrativa se dirija a locais inimagináveis, tal qual a mente em funcionamento. Além disso, proporciona ao leitor múltiplas interpretações, tanto em relação a fatos quanto a intencionalidades. Pode-se perceber, ainda, que os textos são cuidadosamente lapidados, de modo a torná-los preciosos e limpos.

A narrativa ocorre em terceira pessoa, mas representa o ponto de vista dos personagens que cometem as atitudes horríveis, como se Kurpag estivesse esmiuçando tudo o que se passa no íntimo das suas figuras dramáticas.

Contudo, penso que, na verdade, esses quase cinquenta contos não são de terror, tendo em vista que não têm nada de amedrontador. Eles são sim asquerosos, pois retratam as facetas mais repugnantes que o ser humano pode demonstrar. São plenamente extremistas, de modo a jogar na cara do leitor aquilo que ele realmente é. Não são construídos para induzir ninguém a virar psicopata, mas sim para tornar as pessoas menos animalescas, menos instintivas, menos bestiais. Para mim, são psicológicos, porque apresentam personagens comuns, que estão logo ali, no cotidiano, e que, após uma soma de fatores, despertam seus monstros interiores.

Enfim, por todos esses aspectos, afirmo que Kurpag merece sincero reconhecimento enquanto autor. E peço que se leia “Da mente ao impulso”, sua primeira publicação, sem vestígios de preconceito e de julgamentos superficiais, assim obtendo, com certeza, uma experiência transformadora.


* Trechos de “Insatisfação Mortal”, um posfácio:

“A anulação da busca pelo caminho real da essência da vida faz com que cada pessoa tenda a devirtuar sua existência e a regrá-la dentro de um conjunto de normas estabelecidas por uma sociedade perdida. A sociedade que nunca se encontrou não possui justificativa para si mesma e engole qualquer resquício de sanidade, justamente por sua própria insatisfação coletiva. [...]” (p. 205)

“[...] O que chamam de viver poderia ser denominado, no máximo, sobreviver. Uma sobrevivência baseada na ilusão. A negação sobre uma sobrevivência insatisfeita.” (p. 206)

domingo, 20 de outubro de 2019

"Emma", de Jane Austen

- Título: “Emma”
- Autora: Jane Austen
- Editora: Lafonte (SP)
- Ano de lançamento: 2018
- Nº. de páginas: 478


Lançado originalmente em 1815, “Emma” foi o último romance publicado em vida por Jane Austen. A obra tem por foco a personagem-título, uma jovem da aristocracia rural que, sem muitas atividades além da tarefa diária de acompanhar o pai já idoso, formula casais dentre as pessoas pertencentes ao seu meio social. Esse “divertimento” nem sempre dá certo, o que coloca Emma em situações constrangedoras e mexe com os sentimentos das moças e dos rapazes envolvidos na confusão.

O livro apresenta a perspicaz e admirável análise social elaborada por Jane Austen. Retrata, também, as diferenças sociais entre as pessoas, revelando as variações de importância entre indivíduos e famílias.

Há, ainda, características recorrentes a personagens existentes em outros títulos pertencentes à bibliografia da autora, tal qual o Sr. Knightley, cujo bom senso representa a razão no decorrer da narrativa e, creio eu, a voz de Jane Austen.

Para mim, é um livro excelente, pois reúne elementos de análise comportamental, de romance histórico, de suspense e de reviravoltas, condições que valorizam muito um texto. Outrossim, a construção de personagens verossímeis e carismáticos mantém o bom andamento da história.

Por tudo isso, “Emma” é recomendado para aqueles que gostam de boas leituras românticas, com envolventes figuras dramáticas, com os quais há várias passagens em que se esmiúça os seus estados psíquico e emocional, sem falar do exame da conduta destes, o que constitui, inclusive, o estudo do funcionamento da sociedade em que a autora se encontrava inserida.


- Jane Austen (1775-1817), nascida em Hampshire, na Inglaterra, começou a escrever muito jovem e, hoje, é considerada uma das principais romancistas inglesas. “Orgulho e Preconceito”, “Razão e Sensibilidade”, “A Abadia de Northanger”, “Emma” e “Persuasão” são alguns de seus principais livros.

domingo, 6 de outubro de 2019

"O Mágico de Oz", de Lyman Frank Baum

Fiquei muito curioso quando me deparei com essa edição com o texto integral de "O Mágico de Oz" em uma livraria, pois a riqueza dos originais perante as adaptações é imensurável, tanto pela quantidade de detalhes que se pode analisar quanto pelas mensagens subentendidas ao longo da narrativa.

E Frank Baum reforça aquilo que sempre pensei: quando se escreve para crianças, na realidade, escreve-se, talvez inconscientemente, para adultos (tendo em vista que não se quer que os futuros adultos cometam os mesmos erros ou se frustrem tanto como os atuais adultos). Nesse sentido, são fantásticas as colocações que o autor faz a respeito da ausência/presença de razão e de sensibilidade nas pessoas. Também, salienta a mensagem de que todos têm algo de especial e são capazes. E, posteriormente, de maneira sutil, desenvolve as seguintes ideias: mesmo que se tenha cérebro, é preciso saber como usá-lo; todos têm medo diante do perigo, portanto a coragem existe nas ocasiões em que se enfrenta esse medo; bem como, o coração só deixa os indivíduos infelizes. O que permite reflexões produtivas a um leitor mais atento.

Enfim, "O Mágico de Oz" é uma obra inesgotável e fundamental, pois, além de fazer parte do imaginário de todos aqueles que têm pelo menos um pouquinho de cultura, sempre tem muito a acrescentar aos leitores de qualquer faixa etária.

domingo, 22 de setembro de 2019

"Noite de Reis", de William Shakespeare

"Noite de Reis" é uma comédia que aborda brincadeiras de mau gosto e manipulação. Apresenta (des)encontros e reencontros. E, por meio de uma personagem feminina vestida de homem, trata sutilmente sobre alguns tabus que sobrevivem até hoje.

Eu, particularmente, achei uma das obras shakespearianas mais agradáveis de se ler.

domingo, 8 de setembro de 2019

"A casa dos pesadelos", de Marcos DeBrito

"A casa dos pesadelos" é uma obra de horror excelente e interessante, pois possui um texto envolvente e moderno, personagens fidedignos, suspense em doses cavalares e um terror surpreendente e real. É um livro que me chamou a atenção, tanto pela história quanto pela parte gráfica.

***

Ao final do volume, há uma prévia das outras publicações da Faro Editorial, que parecem, também, bem boas.

domingo, 25 de agosto de 2019

"A tempestade", de William Shakespeare

"A tempestade" foi a última peça escrita por Shakespeare. Ela trata sobre traição, sofrimento, magia, romance, reconciliação e perdão.

Eu, particularmente, achei um texto muito bom, mas não classifiquei entre os mais especiais. O que tem de mais instigante é o incrível toque do famoso dramaturgo inglês e um epílogo magistralmente escrito.

domingo, 11 de agosto de 2019

"O que terá acontecido a Baby Jane?", de Henry Farrell

Sendo fanático pelo filme homônimo a essa obra, fiquei fascinado pela oportunidade de ler o magnífico livro que deu origem à marcante produção cinematográfica estrelada por Bette Davis e Joan Crawford.

Então, ao começar a leitura, embora estivesse achando o livro brilhante, vi-me inclinado a considerar o filme melhor do que a obra escrita. Isso porque, até o momento em que ocorre uma morte na história, ela parece quase idêntica ao filme. E as diferenças encontradas entre ambas manifestações artísticas são apenas entre personagens e fatos que foram, na minha opinião, aprimoradas no filme.

No entanto, após a situação de morte relatada acima, a narrativa impressa se torna mais arrastada, cadenciada, detalhada, o que, do meu ponto de vista, fez com que o texto soasse superior à imagem.

Mas acredito que as duas produções podem ser consideradas impecáveis, tanto o livro quanto o filme. O livro, pelo pioneirismo e pelo primor do autor no trato literário; o filme, principalmente pelas atuações magistrais de Bette Davis e Joan Crawford.

Essa edição conta, também, com três contos: "O que terá acontecido à prima Charlotte?", "A estreia de Larry Richards", "Primeiro, o ovo".

O primeiro deles foi adaptado ao cinema, com o título de "Hush... Hush, Sweet Charlotte" ou "Com a Maldade na Alma" (no Brasil), ao qual infelizmente ainda não assisti. A história apresenta, página após página, grandes doses de suspense e terror surreal, o que torna a leitura deliciosa e instigante.

O segundo, "A estreia de Larry Richards", fala sobre o mundo artístico, assim como a obra maior desta edição, oferecendo ao leitor uma dose extrema de tensão e drama ao longo da narração dos fatos.

E o último, "Primeiro, o ovo", é uma espécie de analogia, bastante poética, sobre o que acontece com os autores que têm suas histórias adaptadas para o cinema, em Hollywood.

Geniais, todos eles!

segunda-feira, 29 de julho de 2019

"Todo mundo tem um anjo da guarda: ensinamentos sobre os seres espirituais que nos protegem", de Pedro Siqueira

Nesta obra, Pedro Siqueira narra as suas próprias experiências com seu anjo da guarda, pormenoriza a existência dos seres angélicos e ensina o leitor a buscar um contato mais próximo com os anjos.

É um livro perturbador e instigante, pois trata com naturalidade sobre um assunto místico, religioso e que mexe com as pessoas há bastante tempo. Então, dependendo da fé, do ceticismo, da ingenuidade e/ou da boa vontade do indivíduo, ele acreditará - ou não - no que o autor relata na referida publicação.

domingo, 14 de julho de 2019

"A alegria de ser discípulo", de Papa Francisco

Este volume trata-se de uma seleção de textos orais e escritos publicados pelo Papa Francisco, cuja compilação (e edição) tem como responsável James Campbell.

Por meio dessas produções, o leitor pode perceber a articulação que o atual pontífice faz entre o milenar discurso da Igreja Católica e as mais urgentes necessidades globais do ser humano.

Disso, chamaram a minha atenção a consciência e a humanidade do Papa, fundamentais no nosso tempo, e a enumeração das características de um verdadeiro seguidor de Jesus Cristo, algo praticamente inalcançável pelo que se observa diariamente, até para aqueles que se dizem "cristãos fervorosos".


"Neste livro, temos a oportunidade de acompanhar um testemunho de fé sólida e aplicação do Evangelho em todas as pequenas atitudes. Praticar o olhar benevolente para o próximo e a alegria de servir acima de nossas vaidades é uma das melhores formas de construirmos uma relação de intimidade e vivência da plena misericórdia de Jesus como Salvador."

(citação retirada da orelha da obra - sem identificação de autoria)


Enfim, um livro que li por pura curiosidade e que me proporcionou várias oportunidades de reflexão e algumas belas citações para trabalhar em sala de aula com os meus alunos.

domingo, 30 de junho de 2019

"Balé Branco", de Carlos Heitor Cony

"Balé Branco" é um livro que me surpreendeu. Eu esperava que tivesse um bom texto, em virtude da qualidade do seu autor, mas não imaginava que acabaria se tornando uma das melhores obras que já li.

A história se passa predominantemente em um teatro, envolvendo essencialmente os componentes de uma companhia de dança - bailarinos, pianistas, diretor, massagista, médico, dentre outros.

E, utilizando-se das partes de uma composição musical para nomear os segmentos do enredo, Carlos Heitor Cony esmiúça os dramas, as alegrias, as virtudes, os podres e, em especial, os segredos de alguns personagens em particular e, também, do próprio teatro. 

Além disso, nas entrelinhas, para o entendimento de um bom leitor, há um magistral paralelo com a vida em nosso país, onde todos somos bailarinos, bons ou ruins, tentando dar saltos certeiros nesse palco decadente chamado Brasil.

domingo, 16 de junho de 2019

"Poliana cresceu", de Eleanor H. Porter

"Poliana cresceu", mais comumente conhecido como "Poliana Moça", é a continuação do título "Poliana". E, fazendo jus ao nome dado à obra, acompanha parte da adolescência e do começo da juventude da personagem principal.

No começo da leitura, tive a impressão de que "Poliana cresceu" seria apenas mais do mesmo, tendo em vista que o início segue uma toada similar à de "Poliana", somente apresentando novas situações.

Porém, pouco depois, a história lembra um pouco o universo das obras de Charles Dickens, principalmente o de "Oliver Twist", transformando a experiência da leitura.

Assim, o texto prossegue interessante até antes do seu final, cujas obviedade e incompatibilidade com a realidade fazem com que o livro se torne mais banal, mais fantasioso, menos do que poderia ser.

Mas, apesar disso, é uma excelente obra, indicada a leitores de todas as idades.

domingo, 2 de junho de 2019

"O poderoso chefão", de Mario Puzo

A trilogia "O poderoso chefão" foi um marco na história do cinema. Com sua produção precisa, seu roteiro envolvente e suas atuações brilhantes, tornou-se uma experiência obrigatória para os fãs da sétima arte.

Baseando-me nisso, fiz a leitura da obra literária que deu origem aos filmes. E esse se transformou em um dos meus livros favoritos, pois possui tudo aquilo que há de extraordinário nos três longas-metragens, mas bem maximizado. Ou seja, no caso de "O poderoso chefão", "o livro é melhor do que o filme" também. Então, em se tratando de uma das mais empolgantes produções para as telonas, imagine só o que espera o leitor nas páginas dessa enorme publicação!

domingo, 19 de maio de 2019

"Contos do imigrante", de Samuel Rawet

Publicado em meados dos anos 50, "Contos do imigrante" é uma das obras de narrativas curtas mais importantes da Literatura Brasileira.

Nos dez contos presentes no livro, o importante engenheiro Samuel Rawet revela, sobretudo, a desolação de suas personagens principais. E faz isso por meio de uma fantástica descrição quase que cinematográfica e de suas escolhas fenomenais no seu modo de narrar, como se o leitor estivesse lendo não só a história, mas também a mente de cada personagem posta em destaque.

Chamaram a minha atenção principalmente os títulos "A prece", um conto certamente universal sobre diferenças culturais, religiosas e o preconceito, assim como "Conto de amor suburbano", que escancara em cada página o desespero e a desesperança causadas pela pobreza e pelo amor não correspondido.

Por fim, cabe salientar que essa obra não é para qualquer leitor. Apenas alguém com uma capacidade de leitura mais aprimorada e com um bom conhecimento literário e de mundo fará algum proveito dela, tendo em vista a densidade narrativa e descritiva, além dos conteúdos abordados.

domingo, 5 de maio de 2019

"Almanaque da Jovem Guarda: uma viagem aos anos dourados", de J. Fagundes

Esse livro, infelizmente, me decepcionou. Digo isso porque eu realmente estava com vontade de ler algo que me contasse mais sobre os artistas da Jovem Guarda, o que não aconteceu satisfatoriamente por meio da obra em questão.

O que mais a menospreza é o seu texto, que apresenta todos os maiores pecados da escrita: falta de coerência e de coesão; erros de grafia e de concordância. Enfim, a parte textual é tão mal escrita e desorganizada que o leitor custa a entender a respeito de quem ou do que o autor está tratando em determinados trechos.

Contudo, se faltou competência por parte do escritor, faltou também por parte da editora, cuja pressa e ambição permitiram que esse produto chegasse às bancas sem qualquer revisão - o que é comprovado pelo título do material, que na capa é apresentado como sendo o supracitado, na folha de rosto está como "Jovem Guarda" e nas margens das páginas surge como "Uma viagem aos anos dourados e perigosos da Jovem Guarda".

Além disso, há uma introdução toda em latim (acredito eu), que não sei se foi intencional ou mais uma falha editorial.

Por fim, em relação ao conteúdo, não posso confirmar nada quanto à sua correção (ou a ausência dela), uma vez que, caso eu conhecesse tanto sobre o assunto, não teria adquirido esse volume. Mas, de qualquer modo, desagradou-me bastante o fato de discorrer a respeito de poucos cantores da Jovem Guarda e de perder páginas e mais páginas argumentando sobre temas secundários, como o programa do Chacrinha, a Tropicália, dentre outros tantos.

sábado, 20 de abril de 2019

"O Diário de Anne Frank"

"O Diário de Anne Frank" me surpreendeu de diversas maneiras. Antes de lê-lo, havia ouvido alguma coisa sobre ele aqui e ali, durante toda a minha vida. Mas nada que possa ser comparado às experiências que o leitura do livro me proporcionou.

A obra trata sobre a permanência das famílias Frank, Van Pels e do dentista Fritz Pfeffer, todos judeus, em um esconderijo na Holanda, na ocasião da Segunda Guerra Mundial.

Porém, mais do que isso, a inteligente e notável adolescente Anne traz ao leitor as suas angústias, a sua chegada à adolescência, seus conflitos com os indivíduos do esconderijo, suas primeiras paixões, sua perspicaz visão em relação à guerra, dentre outros assuntos.

No diário, é possível conhecer de verdade a pessoa Anne Frank, que sonhava em se tornar uma escritora; que queria ser notada, amada e respeitada; que tornou-se adulta precocemente, diante das trágicas circunstâncias.

Enquanto escritor e professor de Língua Portuguesa, achei bem interessante o fato de que ela não escrevia para si mesma, como qualquer outra adolescente faria. Anne inventou uma personagem, Kitty, e, escrevendo cartas para Kitty, elaborou o seu diário. Isso é um conhecimento (ou uma intuição) fantástico para uma menina da idade dela: sempre imaginar o público-alvo, o leitor, no momento de escrever qualquer coisa.

Além disso, por vezes a argumentação de Anne foi tão consciente, tão pronta, tão madura, que eu imaginava estar lendo um romance de alguma autora renomada, e não o diário de uma garota de 13, 14, 15 anos.

E, para finalizar, enquanto leitor, o livro mexeu comigo profundamente, pois, apesar da situação horrível que estava vivendo, Anne manteve-se esperançosa, viva (muito viva), cheia de projetos para "depois da guerra". Contudo, de repente, três ou quatro dias após a não-planejada derradeira "carta" para Kitty, ela e os outros foram encontrados. Por conta disso, há no livro o relato de alguém, talvez de seu pai Otto Frank, o único sobrevivente, dizendo o que havia acontecido com os oito seres humanos que estavam escondidos. E é chocante porque, quando assistimos aos terríveis e inacreditáveis vídeos reais dos campos de concentração nazistas, até custamos a acreditar que aquilo tinha ocorrido, que aquelas criaturas encontradas nos campos após a libertação eram realmente pessoas (https://www.youtube.com/watch?v=QDt8So601DA). Agora, entrando em contato com uma jovem tão cheia de vida naqueles textos e sabendo, em seguida, que pouquíssimo tempo depois ela foi assassinada por conta do tifo e da situação precária dos campos, tendo sido, na sequência, jogada pelada em uma vala comum, como um boneco imprestável, isso dá outra perspectiva, alça o leitor a um outro patamar de terror, de pena, de desespero, de todas as sensações horríveis que se possa sentir.

domingo, 7 de abril de 2019

"O tigre: uma história real de vingança e sobrevivência", de John Vaillant

O livro "O tigre" é marcado pelo exagero. Nota-se que John Vaillant pretendia originalmente narrar a história real de um tigre que havia atacado, por vingança, um caçador. E, se fôssemos retirar da obra apenas os trechos utilizados para esse objetivo, teríamos um texto bem mais curto, mas bem mais atraente.

A escrita de Vaillant tem méritos notáveis. Percebe-se que ele realizou uma pesquisa minuciosa para selecionar os argumentos para o livro e, por meio de sua narrativa, o leitor consegue imaginar com perfeição a região da Sibéria, cujo cenário é dominado pela taiga.

Contudo, o autor empolgou-se tanto com a obra, incluindo o que descobrira em sua pesquisa, que pecou pelo excesso. "O tigre" apresenta realmente o acontecimento acima descrito, porém mescla a isso informações importantes mas desnecessárias para esse título. Ele insere em um mesmo volume narrativas envolvendo ataques de tigres, assim como tudo o que achou interessante a respeito do tigre-siberiano, do Extremo Oriente Russo, dentre vários outros assuntos mais ou menos ligados ao contexto do livro, misturando tudo isso em uma montagem confusa, lenta e, consequentemente, enfadonha.



"[...] somos tão prisioneiros da nossa experiência subjetiva que, apenas por força de vontade e imaginação, conseguimos abrir mão dela e considerar a experiência e a essência de outra criatura, ou mesmo de outra pessoa."

sexta-feira, 22 de março de 2019

"A relíquia", de Eça de Queiroz

Sempre tive grande dificuldade em apreciar as obras de Eça de Queiroz. Apesar de admirar muito as temáticas propostas em alguns de seus principais títulos, como "O crime do Padre Amaro" e "O primo Basílio", nunca consegui concluir a leitura desses textos, principalmente por considerar excessivamente maçante o seu estilo descritivo e rebuscado demais.

Por outro lado, ao realizar a leitura da póstuma "A cidade e as serras", primeiro em uma adaptação e depois em um original belíssimo que me foi ofertado como presente pela minha cunhada, encontrei ali um Eça diferente, mais leve, mais atrativo, mais genial, perante o meu humilde ponto de vista. E isso me encorajou!

Por isso, quando me deparei com essa edição de "A relíquia", tive algum receio de juntá-la à minha coleção. Contudo, a sinopse do livro me tirou qualquer dúvida.

A obra é protagonizada pelo personagem Teodorico, que, ao ficar órfão de pai e mãe ainda criança, vai morar na casa de sua Tia Patrocínio, rude, rica e (ultra)religiosa. Sabendo-se seu único herdeiro, o malandro Teodorico vive uma existência dupla: na frente da tia, um católico fervoroso; e, pelas suas costas, tomando extremo cuidado, um boêmio mulherengo.

E, diante da oportunidade da sua vida, no momento em que poderia conquistar a certeza de um futuro próspero e livre, o destino acaba lhe pregando uma peça, dando-lhe uma rasteira.

Desse modo, o rapaz acaba percebendo, pelos golpes da consciência, os reais motivos de sua desventura: a hipocrisia e a mentira, que, em nosso mundo, são defeitos (nos tornando piores), mas também qualidades (garantindo a nossa sobrevivência e a convivência em alguns momentos).

A partir daí, toda vez que tende a mentir e a ser hipócrita, Teodorico é salvo pela sua consciência. E é a sua sinceridade e o seu próprio esforço que lhe salvam de uma vida miserável.

No entanto, quando revisita a hipocrisia em outros indivíduos, lamenta que o seu erro foi não ter tido a coragem de afirmar. Pois, segundo ele, caso tivesse persistido na mentira e tido algum poder de improvisação, poderia não ter se dado tão mal.

***

Durante a sua narrativa, sobretudo no cansativo capítulo 3, o autor questiona e ironiza diversos aspectos dos relatos bíblicos, como a ressurreição e algumas opiniões e detalhes observados nos evangelhos. Isso demonstra o caráter crítico e destemido de Eça.

Mas não só de crítica e coragem é feito "A relíquia". Também há muitas situações hilárias e apontamentos dignos de aplausos. Aqui seguem alguns destes - o primeiro discorre a respeito da consciência e o segundo, sobre a coragem de afirmar. Creio que exemplificam bem o teor do livro.



"[...] Eu não sou Jesus de Nazaré, nem outro deus criado pelos homens... Sou anterior aos deuses transitórios; eles dentro em mim nascem; dentro em mim duram; dentro em mim se transformam; dentro em mim se dissolvem; e eternamente permaneço em torno deles e superior a eles, concebendo-os e desfazendo-os, no perpétuo esforço de realizar fora de mim o deus absoluto que em mim sinto. Chamo-me consciência [...]"


"[...] houve um momento em que me faltou esse descarado heroísmo de afirmar, que, batendo na terra com pé forte, ou palidamente elevando os olhos ao céu, cria, através da universal ilusão, ciências e religiões."

sábado, 9 de março de 2019

"Antologia Poética", de Marcos Konder Reis (seleção de Walmir Ayala)

Esta é a minha impressão sobre a poesia de Marcos Konder Reis: densa, pesada, mas belíssima! O autor experimenta as formas, põe à prova as palavras, lapidando cada texto para (não) dizer o que deseja da maneira mais bonita, rebuscada e, sobretudo, própria.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

"Ironias do tempo", de Luis Fernando Verissimo (organizado por Isabel e Adriana Falcão)

O livro "Ironias do tempo" reúne setenta e sete crônicas escritas por Luis Fernando Verissimo, todas publicadas durante os últimos vinte anos (de 1998 a 2018). Os textos, selecionados por Isabel e Adriana Falcão (mãe e filha, respectivamente), retratam, como está sugerido no título, as ironias que o tempo constrói após a passagem de alguns anos, décadas, séculos.

E essa característica é riquíssima na obra de Verissimo. Como cronista, ele não apenas nos fornece um instantâneo do momento que deseja registrar, mas, como um bom fotógrafo faria, também oferece ao público uma interpretação transcendental dos fatos relatados e lapidados por ele. Pode-se dizer, até, que esse é o fator que permite as ironias, as analogias referidas anteriormente.

O autor sempre proporciona aos leitores crônicas mágicas (por encantarem), atraentes (por convidarem à leitura), engraçadas (pelas situações hilárias que cria, na busca pelas melhores comparações - explícitas ou não), inteligentes (por convocarem à reflexão).

Assim, para quem tem interesse por fazer uma leitura agradável, rica e que retoma um pouco da nossa história recente, "Ironias do tempo" é uma dica certeira.

sábado, 9 de fevereiro de 2019

"A sutil arte de ligar o foda-se: uma estratégia inusitada para uma vida melhor", de Mark Manson

O presente livro de Mark Manson pode ser considerado uma obra de autoajuda. Porém, desde o título, não é de maneira alguma tradicional. Pois nele o autor busca liberar os leitores dos fardos que a sociedade moderna impõe a todos nós: seja excelente, seja especial, seja feliz, seja eterno, faça sucesso, dentre outros. E os nomes dos capítulos dão uma noção da argumentação oferecida por Mark: "Nem tente", "A felicidade é um problema", "Você não é especial", "O valor do sofrimento", "Você está sempre fazendo escolhas", "Você está errado em tudo (eu também)", "Fracassar é seguir em frente", "A importância de dizer não", "... E aí você morre".

Mark Manson conversa de forma direta com o seu público, sem medo de dizer, sem medo de palavras fortes, sem medo de impactar, sem medo de rir (inclusive da desgraça). Ele acerta o ponto e trata sobre tópicos que afetam a vida de cada indivíduo, assim como discorre a respeito deles feito um verdadeiro amigo. E é por isso que esse livro não é só mais um dentre tantos.

domingo, 27 de janeiro de 2019

"Ben-Hur: uma história dos tempos de Cristo", de Carol Wallace (baseado no romance de Lew Wallace)

Este livro não se trata do original, publicado em 1880 e escrito por Lew Wallace. É uma adaptação feita por Carol Wallace, trineta do autor supracitado, que justifica assim o que motivou essa tarefa:

"Como escritora, eu pude ver o potencial que existia no livro tão amado do meu trisavô. Ele poderia ser atualizado com cortes, reposicionamento de certas passagens, mais profundidade nas personagens femininas, ritmo mais rápido e linguagem contemporânea."

Desse modo, com o maior respeito ao texto original, a autora tornou esse interminável título em algo mais atraente ao público de hoje. E isso é muito importante, pois a história protagonizada por Judah Ben-Hur não faz referência apenas à fé cristã. Ela retrata a injustiça, o azar, a vingança, o amor, a amizade, a humildade, a prepotência, a dissimulação, a lealdade, a resignação, a conformação, a revolta, a doação, dentre vários outros temas; enfim, assuntos eternos quando se alude ao ser humano.

E essa magnífica obra, magistralmente esculpida, uma amostra fiel da humanidade, tem, na presente versão, a honra de ter servido como fonte para o mais recente filme inspirado em "Ben-Hur: A Tale of the Christ", lançado em 2016.

Por conta de tudo isso, cabe a mim afirmar que é um inestimável ganho de tempo a prazerosa degustação de cada palavra contida no volume em questão.

domingo, 13 de janeiro de 2019

"POEMAS e CARTAS A UM JOVEM POETA", de Rainer Maria Rilke

Maravilhoso esse livro que apresenta textos de Rilke e que fala sobre o autor.

Os poemas de Rilke soam ainda atuais, apesar da idade, e retratam a sua visão sobre a vida, a morte, as estações do ano (representando as fases da vida também), o misticismo.

Todos os poemas apresentam, numa seção especial do livro, comentários dos seus organizadores e tradutores Geir Campos e Fernando Jorge, o que enriquece deveras a experiência da leitura.

Os textos sobre o autor trazem ao leitor uma boa noção de quem foi e do que pensava Rainer Maria Rilke.

Mas o que mais me fascinou mesmo foram as cartas que ele escreveu para o jovem poeta (do título) Franz Xaver Kappus, as quais demonstram uma admirável visão da existência e a respeito do que nos acontece ao longo da nossa caminhada.

Realmente, uma leitura agradável e construtiva!